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À margem: cena do skate de Mariana sente abandono do poder público

Atualizado: 8 de ago. de 2023

Atletas notam marginalização em relação a outros esportes


Skatistas caminham sozinhos na resistência da modalidade pela Primaz de Minas | Foto • Lucas Barbosa

Gabriel Borges, Igor Varejano e Lucas Barbosa


Quando Matheus Moreira, 17, sobe em seu skate, sai pelas ruas de Mariana e sente o vento bater no rosto, sua vida passa a fazer mais sentido. Nas manobras de alta dificuldade realizadas na pista da cidade, todo o estresse cotidiano se transforma em adrenalina e prazer. Porém, para o jovem e outros skatistas da cidade, obstáculos maiores que as rampas são diários na prática do esporte.





Segundo Moreira, os amantes do skate possuem diversos entraves na cidade em relação à modalidade. Atualmente, o único apoio recebido é a disponibilidade da pista, criada em 2019. No entanto, até mesmo o espaço tem suas mazelas. Os skatistas não podem andar durante a noite há mais de um mês, pois o espaço está sem luz após o furto das lâmpadas que iluminavam o local. Procurado pelo Lampião Digital, o subsecretário de Esportes de Marina, Ruy Júnior, explicou a situação.


"A luz foi cortada por conta do roubo das lâmpadas. Foi feito um reparo pelo setor da elétrica, órgão responsável. Alguns dias depois, houve um novo roubo das lâmpadas. Já foi feita a solicitação novamente para o reparo, mas a demanda do setor da elétrica é muito alta, por isso o reparo não foi feito”, disse.

Mas os incômodos não param por aí. Apesar de nova, a pista não supre todas as necessidades dos skatistas, já que as rampas são muito altas, além da falta de corrimãos, caixas e existência de espaços ociosos. O estudante Yuri Dinali, 23, que encontra no skate o caminho de sua vida, conta o que poderia ser feito para evoluir a estrutura.

“Eu acho que rampas menores. Essas transições devem ser menores, porque aqui é muito alto. Para a galera que está começando, não dá para meter a cara. É embaçado. Tem o espaço da grama ali atrás, aqui ao lado também, que daria para colocar rampas menores, para quem está começando a andar (...). Na pista nova de Ouro Preto tem umas transições menores. Se colocasse essas aqui, já ficaria maneiro”, opinou.

Atual formação da pista dificulta iniciação na modalidade | Foto • Lucas Barbosa

Ruy Júnior, por sua vez, rebate alegando que a pista é de alta performance.

“Quando a pista foi feita, o projeto foi feito em conjunto com os atletas e baseado em outras pistas que pesquisamos. A pista é de alta performance (...). Não há nenhuma demanda para mexermos nela”, relatou à reportagem.

“Só fizeram a pista e deixaram lá”

Construída e inaugurada em 2019, a pista Jorge Luiz Saar Armond Júnior, abriga a prática de diversos esportes urbanos, principalmente skate, patins e BMX. Anteriormente, os atletas recorriam a espaços da cidade como as praças e quadras, o que, de certa forma, atrapalhava as atividades. Com a criação da pista, a situação melhorou, mas ainda é vista como insuficiente pelos praticantes. Chateado, Moreira citou o apoio dado pela Prefeitura de Mariana a outros esportes, como futebol, handebol e ciclismo, o que, segundo ele, não se aplica ao skate. O jovem acredita que o poder executivo municipal poderia realizar intervenções que alavancariam a modalidade, como a criação de eventos e torneios, unindo esporte, música e cultura.


Falta engajamento da turma do skate”

O subsecretário, por sua vez, rebateu as reclamações informando que é função das comunidades esportivas buscarem e organizarem eventos, como é feito no caso do futebol, que tem as competições municipais realizadas pelo órgão responsável, a Liga Esportiva de Mariana. Ruy explica que os torneios que acontecem na cidade não são feitos pela Secretaria de Esportes ou pela Prefeitura Municipal, e que esses órgãos somente dão o suporte e apoio necessários depois que as iniciativas são organizadas pelas associações.


“A Prefeitura, através da Secretaria de Esportes, apoia várias outras modalidades, como futsal, futebol, handebol, vôlei, basquete e lutas marciais. Ajudamos no transporte, eventos em que as associações tentam trazer, a gente abraça. Acho que falta um pouco de engajamento mesmo da turma do skate. Quando acontecem esses eventos, as próprias associações movimentam as organizações e a Prefeitura dá o aporte. Todos esses eventos esportivos são realizados, quase em sua totalidade, pelas associações responsáveis pela modalidade. A Prefeitura apoia com uma parte, não somos nós que organizamos. Acho que falta engajamento da própria turma do skate.”

O Lampião Digital apurou que a Associação de Esportes Urbanos de Mariana está desativada há cerca de cinco anos, por conta de dívidas acumuladas durante sua trajetória. Referência na área e praticante de patins, Alexandre Gonçalves, 33, explica que a associação surgiu para alavancar as modalidades, além de lutar pela construção da sonhada pista, mas que ela perdeu força com o passar do tempo.

A Prefeitura, última, até nos ajudou, mas foi uma correria danada. A galera já havia desistido, mas acabou acontecendo por uma verba que chegou”

De um lado, os praticantes de skate, patins e BMX reforçam o sentimento de abandono dos órgãos responsáveis em Mariana. Do outro, o poder público cobra a ação das organizações de esportistas.






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