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Após 21 anos, o futebol feminino volta aos campos de Mariana e enfrenta adversidades

As atletas estão em seu segundo ano de retorno ao campeonato marianense, e enfrentam a falta de estruturação e de apoio mínimos decorrentes, também, de duas décadas de ausência das partidas


Natália Santos e colaboração de Érika Vicentini

A fotografia foi feita durante a partida entre os times 1º de Maio e Morro Santana, na Arena Badaró. As atletas do 1º de Maio usam o uniforme nas cores branco e azul, e as atletas do Morro Santana utilizam o uniforme nas cores amarelo e azul. Elas estão próximas do gol, a goleira está posicionada à frente do gol enquanto alguns espectadores assistem o desenrolar do lance do lado de fora do campo. São visíveis na foto algumas casas e carros estacionados do lado de fora da arena.

Partida entre os times 1º de Maio e Morro Santana, na Arena Badaró, em Mariana (05/08/23) | Foto: Natália Santos


Em Mariana, o campeonato de futebol feminino ressurgiu no ano retrasado, após 21 anos de interrupção. Agora, se prepara para conhecer a equipe vencedora da edição de 2023, a segunda depois da volta aos campos da cidade. No entanto, esse retorno não se dá sem desafios, precariedades e reflexões sobre as consequências de uma ausência tão longa.

O hiato evidencia a lacuna de apoio às mulheres no mundo do esporte, em especial, do futebol, e a desigualdade entre o masculino e o feminino, mesmo diante da empolgação de suas jogadoras. Ao longo das duas últimas décadas, aspirantes a jogadoras profissionais viram seus sonhos se esvaecer devido à escassez de competições regulares, treinamentos em campos apropriados e ausência de equipes minimamente estabelecidas.

Essa situação evidencia a omissão por parte dos dirigentes e da própria prefeitura, que privou muitas mulheres do sonho e das oportunidades para seu crescimento neste esporte, como apontado pelas atletas.


Atletas do 1° de Maio se preparam para a partida na Arena Badaró, em Mariana (05/08/23) | Foto: Natália Santos


Ao longo desse período de 20 anos, foram realizados torneios em diversas categorias, incluindo primeira e segunda divisões dos sub-11, sub-13, sub-15, sub-17 e sub-20, o que demonstra que, vários campeonatos continuaram a ser planejados pela Liga nesse tempo, enquanto apenas um torneio feminino pôde ser retomado. Além disso, é importante destacar que os times femininos se organizam com jogadoras que possuem idade mínima, 14 anos, mas sem limite de idade máxima. Isso para viabilizar os jogos.


Neste ano, coincidindo com a realização da Copa do Mundo Feminina, da Fifa, repleta de propagandas empoderadas que convocam o público a sintonizar nos jogos, o panorama global parecia propício para exaltar o desempenho esportivo das mulheres. No entanto, o que se desenrolou ao longo do torneio marianense contrasta com esse clima de reconhecimento mundial. Nos bastidores dessa fachada de valorização, na cidade de Mariana, a realidade mostra uma história diferente.


Enquanto alguns bares pelo país começavam a ficar abarrotados de espectadores acompanhando os embates internacionais, a mesma empolgação não se refletia nos jogos locais femininos. Nesse cenário, apenas familiares e pouquíssimos conhecidos se dedicavam a apreciar as partidas das atletas locais.


As torcidas eram compostas, em grande parte, por amigos, familiares e conhecidos das atletas (05/08/23)| Foto: Natália Santos


Por outro lado, o que também se via, com muita frequência, nas partidas eram jogadoras determinadas a fortalecer ainda mais o campeonato. Em 2022, quando se iniciou a organização para a retomada do campeonato feminino na cidade, somente três times - 1° de Maio, Olimpic e Ideal - estavam prontos para competir. Mas com o apoio da Liga Esportiva de Mariana (Lema), uma quarta equipe, o Cachoeirense, conseguiu ser reunida, graças à iniciativa do treinador do time de futsal Vila do Carmo, Matheus. Ele inscreveu seu time sub-17, de futsal, no campeonato de campo.


Agora, em 2023, o torneio se expandiu para cinco times: Morro do Santana, Olimpic, 1º de Maio, Ideal e Guarani (do distrito de Furquim). Além de ter mais times e jogadoras em campo, este ano também marcou a estreia da primeira árbitra do campeonato marianense, Júlia Reis, 23 anos.


Júlia Reis, primeira árbitra de Mariana, apita amistoso masculino na Arena Badaró (06/08/23) | Foto: Érika Vicentini


Júlia estava afastada do cenário futebolístico há dois anos. Até que, no início de 2023, por sugestão de uma colega da Lema, investiu na arbitragem. Optou por participar da capacitação da Federação Mineira de Futebol (FMF), ministrada pelo educador físico Joel Tolentino, no início desse ano. E, então, se tornou a primeira árbitra da história do campeonato marianense.

O futebol, para Júlia, representava mais do que apenas um esporte, era um lugar de pertencimento. Enfrentando adversários masculinos com a mesma determinação, ela alimentava o sonho de se tornar uma jogadora profissional. Antes de sua chegada a Mariana, sua vida estava em São Paulo, uma metrópole que a fazia sentir-se vulnerável e limitava a sua liberdade de se movimentar, afastando-a dos treinos. Essas barreiras gradualmente diminuíram sua aspiração de se tornar uma jogadora, à medida que as oportunidades pareciam escassas.

Para Júlia, as desistências frequentes por parte das atletas, frente às adversidades que surgem durante as partidas, representam um problema bastante recorrente. No ano passado, Júlia teve participação na retomada do campeonato, jogando pelo Olimpic. Durante essa experiência, presenciou equipes que entraram em campo com desfalques que comprometeram alguns jogos e, em casos extremos, sofreram derrotas por simplesmente não conseguirem comparecer às partidas.


A falta de uma estrutura organizacional eficiente da Liga, aliada à ausência de um planejamento da tabela de jogos faz com que as jogadoras só tomem conhecimento das partidas em cima da hora. Algumas datas dos jogos do atual campeonato foram informadas com apenas três dias de antecedência. Com essa janela de tempo limitada, as atletas se veem obrigadas a abdicar dos jogos devido a outras prioridades que se sobrepõem, como seus próprios empregos.


Desorganização e desfalques


Na penúltima partida da primeira fase do campeonato o time do Morro do Santana (MS) iniciou o jogo com apenas nove jogadoras em campo, contra o 1° de Maio (1°M) completo, com inclusive algumas jogadoras reservas. Isso para evitar uma derrota por W.O. - do inglês without opponent, que significa “sem oponente” - e também uma possível suspensão de um ano das competições. O placar final não poderia ser outro, registrou uma vitória expressiva do 1°M, com um resultado de 11 x 1.


A zagueira do Morro Santana, Marcela Dias, está participando do campeonato pela primeira vez esse ano e relatou o que ocorreu: “Isso é bem corriqueiro, eles avisam o dia do jogo na terça ou na quarta. Nesse, em específico, foi na quarta, e íamos jogar no sábado. Mesmo tendo 28 meninas inscritas na equipe, a maioria trabalha. Em outros jogos, algumas conseguiram fazer a troca, para trabalhar no sábado antes, e poder folgar na semana seguinte. Com esse prazo curto, as meninas não conseguem se organizar”.


Profissional de Educação Física, Marcela se queixou também da quase eliminação que a equipe sofreu: “Entramos no jogo com nove jogadoras, contando a goleira. Tínhamos que entrar porque, se a gente tomasse W.O., seríamos penalizadas com a eliminação, a gente já estaria fora desse campeonato e nenhuma atleta inscrita e nem equipe poderia jogar o ano que vem”.


Marcela Dias, zagueira do time Morro Santana após a partida na Arena Badaró (05/08/23) | Foto: Natália Santos


Até o fechamento desta reportagem, as datas para as finais não haviam sido definidas. Marcela destacou ainda a falta de organização nas finais e semifinais, etapas cruciais do campeonato:

“A semifinal estava marcada para o dia 20 de agosto, e eles já mudaram pro dia 3 de setembro. Então, você não consegue se planejar para poder participar. Isso dificulta muito o número de atletas no dia do jogo. Jogamos quase todos os jogos com um número bem reduzido, o máximo que a gente conseguiu levar foram 14 meninas”.

Área destinada às equipes técnicas e jogadoras reservas dos times 1º de Maio e Morro Santana na

Arena Badaró em Mariana (05/08/23) | Foto: Natália Santos


Mesmo com a existência de uma equipe de comunicação dedicada ao evento, as postagens nas redes sociais, incluindo o Instagram oficial da Liga (@ligaesportivamariana), eram realizadas apenas poucos dias antes das partidas. Essa divulgação precária e de última hora chegou ao ponto de publicizar as datas, horários e local dos jogos após o término das partidas. É relevante ressaltar que, apesar do investimento de R$19,6 mil na gestão de mídias sociais, publicidade e marketing dos jogos, a problemática da divulgação tardia não é exclusiva do campeonato feminino.


A capitã do time Ideal, Geisa Pedrosa, compartilhou suas experiências vivendo o futebol local. "Atualmente, não tenho mais objetivos profissionais no futebol. Já quis muito antigamente. Aqui, em Mariana, não temos essa base, não nos oferecem isso. Não há incentivo, especialmente para o futebol feminino. O campeonato é desorganizado, não temos motivação ou suporte. Parece que só fazem o campeonato para constar que estão apoiando, mas nós é que precisamos correr atrás de tudo ou ficamos sem jogar".


Jogo do time Olimpic contra o time Morro Santana, na Arena Olimpic em Mariana (15/07/23) | Foto: Natália Santos


Antes de 2022, a última partida de futebol feminino realizada em Mariana ocorreu no ano de 2001. Nessa época, o então presidente da Liga Esportiva de Mariana (Lema), professor Décio Gabriel Soares, estava à frente da organização. As informações acerca dos campeonatos daquela época são escassas, com poucos registros sobre os times que competem e as atletas envolvidas. Poucos detalhes são conhecidos sobre essa fase do futebol feminino na cidade, resultando em um vazio histórico que dificulta a compreensão completa do cenário esportivo daquele tempo.


Desde essa época até o presente, a liderança da Liga foi assumida por cinco presidentes diferentes, porém, durante esse intervalo, não houve um foco direcionado ao desenvolvimento do futebol de campo feminino. Foi somente em 2022, quando Aloísio Arlindo Bento, também conhecido como Caburé, reassumiu o comando da Liga, que o campeonato foi retomado, reacendendo a chama do futebol feminino na cidade e oferecendo uma nova oportunidade às jogadoras locais.


Troféu do Campeonato Faminino do time Olimpic, em dezembro de 2001, guardado no fundo

da exposição de troféus do Olimpic| Foto: Érika Vicentini



Medidas desiguais

Uma das dificuldades, segundo Caburé, foi que inicialmente o campeonato feminino amador não estava planejado para ocorrer. No entanto, a Lema realizou uma readequação orçamentária, que possibilitou o redirecionamento dos recursos previamente destinados aos campeonatos masculinos, permitindo assim a realização do feminino com uma redução nos valores repassados, em comparação aos campeonatos em geral.


Sem transporte para os jogos que ocorrem nos bairros de Mariana, atletas do 1º de Maio se reúnem para ir

juntas à partida na Arena Badaró, do bairro Cabanas | Foto: Natália Santos


Este ano, cada equipe feminina, com jogadoras a partir de 14 anos, recebeu um montante de R$ 2 mil para custear sua participação, mesma quantidade destinada ao time sub-20 masculino, com jogadores de idades bem definidas, entre 17 e 20 anos. Já as equipes masculinas da segunda divisão receberam um montante de R$ 5,5 mil por equipe, ou seja, 36% a mais que as equipes femininas. Ano passado, cada equipe feminina recebeu R$ 1,5 mil.


Esse alinhamento financeiro, embora tenha possibilitado o torneio, trouxe consigo a implicação de que os times femininos receberam uma quantia menor em relação ao que é habitualmente distribuído em competições esportivas. Os recursos são destinados a despesas com transporte, alimentação, material esportivo, taxas de inscrição, transferências de atletas e dirigentes, entre outros gastos. No entanto, somente com as chuteiras as jogadoras gastam, em média, R$ 200,00. Considerando um time com 11 jogadoras, o custo total.


As chuteiras que os atletas usam durante os jogos possuem um custo médio de R$200 reais. Levando em conta a média de 11

jogadores em campo, o valor fornecido às equipes não supre as necessidades de todas. | Foto: Natália Santos


No que diz respeito aos prêmios, as equipes masculinas da segunda divisão recebem um total de R$13,9 mil, enquanto as equipes femininas recebem R$ 5 mil. Os valores para uma equipe vencedora de primeira divisão, masculino, são ainda mais discrepantes, onde o recurso é quatro vezes maior, totalizando R$ 20,5 mil.


Jogadora do time 1° de Maio recebe cuidados do técnico após pequena lesão durante o jogo contra o MS. A ausência de um kit de

primeiros socorros completo e de profissionais de pronto atendimento em saúde ressalta a falta de recursos médicos essenciais,

e levantam preocupações sobre a segurança das jogadoras em casos de lesões mais graves | Foto: Natália Santos


Patrocínio


Apesar do apoio de R$ 2 mil fornecido pela Liga, para os times femininos, muitas equipes têm buscado patrocínios de diferentes fontes, o que nem sempre é exitoso. O presidente do clube esportivo 1º de Maio, João Tomaz, pontuou a realidade e a luta contínua para garantir o apoio dos comerciantes da região às equipes. “Nem todos os empresários e comerciantes daqui apoiam o futebol, aqui é sempre muito difícil, é sempre muita choradeira pra conseguir alguma coisa com eles".


No ano passado, a participação integral das equipes no campeonato foi possibilitada principalmente devido ao empenho da Liga em buscar parcerias com o comércio e varejo locais. Estas empresas desempenharam o papel de patrocinadoras, apoiando os times e contribuindo com uniformes e recursos financeiros para assegurar que as equipes pudessem competir de maneira adequada na competição.


Para o campeonato feminino deste ano, a administração de cada equipe demonstrou um aprimoramento em sua organização, resultando na obtenção de apoios de maneira independente por todas as equipes participantes. Enquanto alguns times conseguiram atrair suporte por meio de parcerias com empresas locais, outros receberam um apoio direto das suas próprias comunidades.


Jogadora do time Morro Santana assinando o relatório do jogo no início da partida| Foto: Natália Santos


O espaço ocupado pelo campeonato feminino, atualmente, é uma resistência. Durante os anos em que não houve partidas em campo, as atletas relataram que o futebol de salão foi o que as manteve no esporte, já que acontecem campeonatos municipais e intermunicipais, mas essa realidade já não é a mesma de antes.


A árbitra Júlia relatou a sua insatisfação com o futsal de Mariana: “Antigamente, quando eu era mais nova, tinha uma diferença entre o futsal e o futebol de campo, tinham muitas competições e eram mais acirradas do que hoje em dia. Esse ano, eu me recordo de uma ou duas competições de futsal, e pela Prefeitura não me recordo de nenhuma. A Prefeitura sempre realizava campeonatos e de um ano pra cá não tivemos mais nada.”


Jogadora do time 1° de Maio compartilha uma garrafa de gatorade com o filho que assistia à partida | Foto: Natália Santos


Geisa, 27 anos, capitã do time Ideal, também falou sobre a falta do incentivo e a desvalorização e o preconceito com relação às mulheres no futebol.


“Se for analisar a forma que liberam a verba e elaboram um campeonato feminino e o masculino, você percebe a diferença. Aqui não temos valorização, não vejo nada que faça a gente querer disputar o campeonato. Já vi pessoas que vão aos jogos pra rir, porque dizem que mulheres não sabem jogar bola, viramos uma piada”.

A capitã também destacou a importância das relações humanas construídas por meio do esporte. “Eu já ganhei muitas medalhas e viajei bastante graças ao futebol, mas minha maior conquista foram as amizades que eu fiz. Tenho três melhores amigas que conheci enquanto jogava bola na escola, e essa amizade já dura 14 anos. Essa, sim, foi uma conquista bastante significativa pra mim”.


Essa dimensão social e emocional reforça o poder transformador do esporte, independentemente dos desafios enfrentados. Geisa finalizou com o apelo por uma liderança mais engajada e comprometida com a causa feminina no futebol: “Sempre comento com as meninas que jogam comigo que a organização desse campeonato deveria ser feita por uma mulher que entende de futebol, que já tenha jogado antes, em vez de colocar alguém que só faz por fazer”.


Mesmo após a derrota por 11x1. jogadoras do Morro Santana comemoram a oportunidade de voltarem

a disputar o campeonato Arena Badaró | Foto: Natália Santos


Jogadoras do 1° de Maio durante o intervalo de jogo na arena Badaró | Foto: Érika Vicentini


Apesar da falta de infraestrutura, a divulgação tardia de jogos e a escassez de recursos financeiros, as atletas mantêm uma determinação inabalável e jogam com muita energia. Mesmo diante do descaso que enfrentam, elas conseguem transformar cada momento em campo em uma fonte de alegria, tanto para si mesmas quanto para os familiares que as acompanham.


Janaína Ansaloni com sua filha Helena e a goleira Kathleen Luiza, do time 1° de Maio, comemoram a vitória sob

o Morro Santana na Arena Badaró | Foto: Natália Santos


Um exemplo inspirador vem da personal trainer, Janaína Ansaloni, 29 anos, jogadora do time 1° de Maio e natural de Mariana, que compartilhou como o esporte sempre foi uma válvula de escape, oferecendo-lhe momentos de descontração e diversão. Em seu jogo mais recente, Janaína teve a companhia da filha, Helena, 1 ano, que ao fim da partida, apesar da sua pouca idade, estava lá, exibindo um sorriso enquanto dava chutes na bola. Janaina, segurando as pequenas mãos de sua filha, a incentivava com carinho, transformando aquele instante esportivo em um testemunho da conexão ímpar entre mãe e filha, repleto de cumplicidade.


A atacante Janaína Ansaloni com sua filha Helena após o fim da partida na Arena Badaró | Foto: Natália Santos


Janaina ressaltou a importância de ter sua filha presente durante os jogos e como deseja transmitir um exemplo positivo a ela: “Hoje eu tenho um suporte essencial que é o meu marido, que sempre fica com a Helena enquanto eu preciso treinar, ou pra eu poder jogar bola. E a minha filha veio como uma forma de me motivar a ser o melhor pra ela, porque eu quero ser um exemplo, né? Eu espero, assim, incentivá-la, a praticar uma atividade física e a cuidar da saúde dela quando crescer”.


Durante os jogos é possível ver diversas crianças nas torcidas | Foto: Natália Santos


Vozes da determinação


Confira a história de duas atletas que sonham com o futebol desde pequenas e se esforçam para manter a paixão ainda viva:


Júlia Reis: Pioneira na Arbitragem Feminina


A fotografia mostra a árbitra Júlia, ao início do jogo amistoso de futebol masculino, usando o uniforme de arbitragem da liga, que consiste em uma camisa azul com a logo da liga e um calção preto. Ela está passando protetor solar, sentada no banco de reservas da arena badaró enquanto alguns atletas aparecem ao fundo.

Júlia encontrou na arbitragem um meio de continuar no futebol | Foto: Erika Vicentini


Júlia Gabrielly Marinho dos Reis Pires, 23 anos, técnica em enfermagem, desponta como uma pioneira na Liga Esportiva de Mariana, carregando consigo a inovação de romper as barreiras que impedem o avanço do esporte feminino. Sua história ecoa pela resiliência e busca por igualdade e por reconhecimento em um campo tradicionalmente dominado pelo gênero masculino.

Nascida em Mariana, mas criada em São Paulo, hoje é a única árbitra da Primaz de Minas. Júlia é uma jovem determinada que, apesar das adversidades e da falta de apoio ao esporte feminino, encontrou sua paixão no futebol. Ela fala sobre a falta de incentivos e investimentos ao seu esporte, uma realidade que restringe o desenvolvimento de talentos e limita a oportunidade de participação de quem quer apostar no futebol.


A fotografia mostra a árbitra apitando um jogo amistoso que aconteceu na Arena Badaró.  Ela está vestindo o uniforme de arbitragem, que consiste em uma camisa azul com a logo da liga e um calção preto, ela segura a bola do jogo em uma mão e na outra o apito. Dois atletas aparecem desfocados ao fundo com os uniformes de jogo.

Júlia atua tanto na liga, quanto em partidas amistosas que acontecem em Mariana | Foto: Erika Vicentini


Ela destaca a ausência de infraestrutura e recursos essenciais para o treinamento e crescimento das atletas femininas, evidenciando a lacuna no desenvolvimento das jogadoras e levando muitas a desistir. Sua perspectiva é enriquecida pela lembrança das próprias experiências da infância e adolescência, onde o futebol feminino estava mais ligado ao futsal, quando teve o primeiro contato com a bola ainda na escola.


"É triste ver como o apoio ao futebol feminino ainda é insuficiente na nossa cidade. A Prefeitura mal arranjava um transporte, e ainda sim muito chorado. Enquanto o futebol masculino recebe mais atenção e recursos, nós, do futebol feminino, precisamos correr atrás de tudo por conta própria”. Júlia conta sobre a falta que faz um espaço para treinar, e como isso afeta o desenvolvimento das atletas.


A árbitra relembra os tempos em que o futebol feminino era praticamente inexistente em Mariana e para continuar jogando, recorria aos times masculinos “Quando eu era mais nova, eu não jogava com mulheres porque aqui não tinha o futebol de campo feminino, então eu sempre joguei com homens, não tínhamos esse lado do esporte e pra mim o que importava era jogar. Hoje eu apito jogos de sub11, sub13, sub15 e eu vi duas meninas jogando pelo 1° de Maio, eu até dei parabéns ao técnico deles, porque eu me vi ali.” Quando questionada se tinha o sonho de ingressar no profissional, Júlia responde, emocionada: “Eu tinha o futebol como se fosse a minha casa, eu acordava cinco horas da manhã pra jogar bola, eu tinha isso como se fosse minha vida, eu esperava, pena que não foi”.


A fotografia mostra Júlia sorrindo ao lado de fora do campo do Olimpic, com uma camisa branca e a logo da marca Nike em um cubo vermelho e uma calça bege, a tela de proteção do campo aparece ao lado.

A técnica em enfermagem é a primeira árbitra em Mariana | Foto: Natália Santos


Ela também contou que na época em que morou em São Paulo, sua liberdade para jogar era infinitamente menor, devido à correria da cidade grande. “Hoje eu me vejo na arbitragem, correndo com os meus pés, quero fazer um curso, eu mesma vou custear, ninguém vai me ajudar com transporte e nem nada”.


A fotografia mostra Júlia durante uma partida amistosa masculina no campo da Arena Badaró. Ela está vestindo o uniforme de arbitragem, que consiste em uma camisa azul com a logo da liga e um calção preto. Um jogador com camisa branca e detalhes vermelhos está caído no chão, enquanto Júlia conversa com outro jogador que usa um uniforme preto e amarelo. A cidade aparece desfocada ao fundo.

Apesar das adversidades, Júlia impõe respeito durante as partidas que apita | Foto: Erika Vicentini


O engajamento de Júlia no esporte feminino revela mais uma dificuldade: custear gastos essenciais, inclusive no transporte de medicamentos para atletas feridas. Além disso, as disparidades gritam entre os prêmios oferecidos a times femininos e masculinos, bem como a carência de recursos para torneios femininos.


Apesar dos obstáculos, Júlia encontrou na arbitragem uma forma de continuar no esporte que ama, se tornando um exemplo inspirador da paixão pelo futebol. Mesmo em meio às adversidades, segue em busca por igualdade e reconhecimento para seu esporte, demonstrando que ainda há muito trabalho a ser feito para garantir que as jovens atletas tenham as mesmas oportunidades e o mesmo apoio que os jogadores masculinos.


Jaqueline Souza: Determinação e Liderança no Futebol Feminino








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