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Ausência de passes livres prejudica bolsistas da Ufop

Atualizado: 16 de ago. de 2023

Estudantes moradores de Ouro Preto gastam mais de 60% da bolsa de assistência com o transporte para a universidade, enquanto os de Mariana contam com a iniciativa do passe livre e do Tarifa Zero


Carolina Gabrich e Yan Lucas


Transporte público de Ouro Preto usado por estudantes da Ufop | Foto • Yan Lucas

#ParaTodosVerem: Duas pessoas com roupas escuras e mochilas entram no ônibus após a sua chegada. O veículo é composto pelas cores da empresa Rota Real: branco, azul e dourado. Ainda na imagem é possível ver outro estudante atravessando a rua.


Ouro Preto e Mariana são nacionalmente conhecidas pelos patrimônios que remetem à cultura do período colonial. Por esse motivo, ambas as cidades são procuradas por turistas de todas as partes do mundo que buscam conhecer as igrejas, minas e os centros históricos. Outro grande fator que aumenta a procura por essas cidades é a Universidade Federal de Ouro Preto, que possui campi em ambos os lugares, além de um em João Monlevade.


Cerca de 10 mil estudantes, oriundos das mais variadas regiões de todo o Brasil, e até mesmo de outros países, deslocam-se para Ouro Preto e Mariana em busca da graduação em algum dos mais de 50 cursos oferecidos pela Ufop, além da pós-graduação. Contudo, nem todos os alunos possuem condições financeiras de se manterem longe de suas cidades natais, ainda mais com grande parte do dia sendo destinado às aulas e às atividades extracurriculares, que dificultam a manutenção de um emprego em tempo integral.


Para facilitar o acesso e estadia dos alunos de baixa renda na universidade, a Ufop fornece, além das bolsas de iniciação científica, a de permanência, que como já diz o nome, é um auxílio financeiro concedido ao estudante que não possui condições de se manter na universidade por conta própria. No entanto, uma das maiores reclamações por parte dos bolsistas é o fato de que o município de Ouro Preto não dispõe de passes livres estudantis.


Mesmo recebendo bolsa, muitos ainda enfrentam dificuldades, pois parte do dinheiro recebido precisa ser gasto no transporte público dentro da cidade ou o intermunicipal, quando se mora em um município diferente daquele em que estuda, como no caso de estudantes que vivem em Ouro Preto e estudam em Mariana, a cerca de 15 quilômetros de distância, e vice-versa. No infográfico abaixo é possível analisar o impacto sofrido nos estudantes que não recebem os passes livres:




Um dos afetados por essa situação é o estudante bolsista Lucas de Souza, 19 anos, aluno do curso de Artes Cênicas, morador e estudante de Ouro Preto, que diz evitar o uso do transporte público do município. “Geralmente eu procuro pegar carona, e quando não consigo vou a pé mesmo. Raramente pego ônibus, pois sei que se pegar todo dia vou ter um gasto expressivo que pode me custar caro mais tarde.”, diz.


O estudante ainda afirma ser afetado negativamente pela falta dos passes livres e comentou as consequências disso. “Sou imensamente grato a todas as pessoas que já me ajudaram dando carona, mas é um método instável de deslocamento. Você nunca sabe quanto tempo vai ter de esperar. Mesmo que, na maioria das vezes, não demore muito, muitas pessoas dependem das caronas e as filas são enormes. Não é incomum chegar atrasado às aulas por conta disso.” concluiu Lucas.


Já em Mariana, a Prefeitura criou o programa Tarifa Zero, que consiste no financiamento do transporte público por parte do município, tornando-o gratuito para toda a população. A medida é válida dentro dos limites da cidade, incluindo os distritos e beneficia, também, a vida dos estudantes universitários que moram em Mariana e estudam nos campi da cidade (Instituto de Ciências Sociais Aplicadas e Instituto de Ciências Humanas e Sociais).


O estudante de Educação Física, Igor Domingues, 22 anos, não se beneficia por completo do passe livre, visto que mora em Mariana e estuda em Ouro Preto. Como a Prefeitura de Mariana ainda não abriu o edital de custeio do transporte para os estudantes, Igor utiliza parte da bolsa permanência para arcar com os custos do seu deslocamento para o campus em Ouro Preto. Além das dificuldades financeiras enfrentadas, o estudante também reclama da superlotação nos ônibus na linha Ouro Preto-Mariana, da falta de horários no período da noite e finais de semana, além da demora para chegar ao destino.


Em Ouro Preto, há casos semelhantes de alunos que vivem na cidade e não recebem passes para transporte até Mariana, sendo os custos bem maiores por se tratarem de trajetos intermunicipais com passagens mais caras: R$ 6,45, na linha Ouro Preto x Mariana, e R$6,75, na linha Saramenha x Mariana. A Prefeitura de Ouro Preto não disponibiliza nenhum tipo de passe para alunos da Ufop e nem para alunos do ensino médio da rede pública. O único transporte ofertado pelo município é o rural, ou seja, os alunos da universidade e do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) () que moram nos distritos (Santa Rita, Salto, Rodrigo Silva, Amarantina e Cachoeira), por ausência de transporte urbano, utilizam o transporte escolar.


Posicionamento


A secretária de Educação de Ouro Preto, Silvia Teixeira, diz que o município não possui recursos suficientes para a implantação de passes livres, mas garante que existem estudos em andamento para a viabilidade deste auxílio aos alunos. A secretária ainda afirma que não existem dados na Prefeitura sobre a quantidade de estudantes que necessitam de tal benefício.



Alunos na Ufop - Campus de Ouro Preto aguardando a chegada do ônibus | Foto • Yan Lucas

#ParaTodosVerem: várias pessoas esperando a passagem do transporte público em um ponto de ônibus situado dentro do Campus do Morro do Cruzeiro, em Ouro Preto. É possível ver diversos carros estacionados e algumas árvores que compõem o ambiente universitário.


O aluno de Artes Cênicas e bolsista da Ufop, Vitor Santana, 20 anos, demonstrou muita insatisfação com a atual situação na cidade em que estuda. “Em Ouro Preto não tem um transporte público pensado para atender os estudantes. Nem direito a meia passagem os estudantes têm, o que causa muita evasão escolar e universitária. Em relação ao problema apresentado, o poder público da cidade mostra omissão. Eu particularmente me sinto sem apoio nenhum da prefeitura em relação ao transporte público”, comenta.


Tentativa


Em outubro de 2022, o vereador de Ouro Preto, Matheus Pacheco, anunciou em suas redes sociais uma audiência pública, requerida por ele, sobre a regulamentação do meio passe ou do passe livre estudantil. “Sabemos que é uma questão urgente. Temos um número alto de estudantes, sendo ouro-pretanos ou não, que convivem na nossa cidade, movimentam a nossa economia e precisam desse vale transporte”, afirma Matheus.


O vereador afirma que já recebeu diversas reclamações de estudantes e de movimentos secundaristas de outros segmentos, além do Conselho Municipal de Educação sobre o tema. Pacheco diz que foi criado, após a audiência pública, um grupo de trabalho com representantes das secretarias municipais de Educação, Fazenda e Desenvolvimento Social para estudar quais recursos financeiros serão necessários para implementar o passe livre, ou até mesmo o meio passe.


“Além do aluguel de moradias na cidade, esses estudantes movimentam muito o comércio e a economia de Ouro Preto. Exemplo disso foi o período da pandemia que, com a ausência das aulas presenciais, a grande maioria dos estudantes foi embora daqui, levando várias lojas, barbearias e salões de beleza, e até mesmo restaurantes, a ficarem praticamente em declínio pela dependência desse público (estudantes da Ufop). Sabemos a importância dos alunos para Ouro Preto, o que evidencia ainda mais a necessidade da regulamentação do passe livre na cidade", concluiu Matheus Pacheco.


Auxílios


Em Mariana, por sua vez, percebe-se que apesar da Tarifa Zero facilitar a vida dos estudantes que moram e estudam na cidade, ainda existem aqueles que estudam em Ouro Preto. Contudo, a Prefeitura abre um edital para os alunos que se deslocam para regiões próximas à cidade receberem um vale transporte mensal. O vereador e ex-prefeito Juliano Duarte explica que a intenção do programa de auxílio transporte é atender a todos os estudantes da rede pública de ensino e bolsistas cadastrados.


Duarte também informa que o transporte é financiado pelo município a partir do repasse do vale transporte mensal ou ajuda de custo para auxiliar nas despesas de deslocamento dos estudantes do ensino técnico e universitário. Ele explica como aqueles que têm direito ao auxílio devem proceder: “Os estudantes devem fazer a solicitação no Departamento de Documentos e Arquivos, anexando todos os documentos comprobatórios e aguardar o deferimento. Em 2022, a média foi de 600 alunos que receberam os benefícios do vale transporte de Ouro Preto a Mariana e, aproximadamente, 100 a ajuda de custo”.


Um dos que se beneficiou dessa medida foi o estudante do curso de Nutrição da Ufop, Gustavo Frade de Souza, 26 anos. O morador de Mariana conta que, se o transporte não fosse custeado pela prefeitura, ele gastaria em torno de R $200,00 por mês com as passagens. No entanto, Gustavo critica a superlotação dos ônibus e os atrasos constantes, “ pois há muita gente que trabalha e/ou estuda em Ouro Preto e mora em Mariana; inúmeras vezes já vi deixando gente pra trás porque não cabia mais gente no ônibus”, afirma o estudante.



Transporte público de Mariana com o investimento do Tarifa Zero | Foto • Yan Lucas

#ParaTodosVerem: ônibus amarelo, laranja e vermelho, cores tradicionais da empresa Transcotta. Na imagem é possível ver o anúncio do Tarifa Zero nas janelas do ônibus, com a explicação que qualquer pessoa pode entrar no transporte público sem pagar.


Como conseguir os passes estudantis em Mariana


Para realizar a inscrição é necessário entrar com a solicitação no Setor de Documentação e Arquivos, localizado no prédio da Prefeitura de Mariana. Os requisitos são:


• Ser estudante do Ensino Médio e pós-médio (preferencialmente da Rede Pública de Ensino);

• Ser residente na sede, distrito ou zona rural do município de Mariana;

• Estar matriculado no ensino médio ou em curso regular e presencial de graduação;

• Comprovar as condições socioeconômicas.

Para mais informações, acesse o site da Prefeitura ou verifique no Instagram @prefmariana.
























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