Os eventos, que acontecem aos finais de semana na cidade, triplicam o lucro dos comerciantes ao mesmo tempo em que desencadeiam uma série de problemas, como degradação do patrimônio histórico, transtornos no trânsito e falta de infraestrutura
Jacqueline Ferreira e Mariana Ferreira dos Santos
O fluxo de pessoas e o consequente aumento no consumo de produtos alimentícios e bebidas incrementou o faturamento, mas os comerciantes relataram que o local não possui infraestrutura adequada para determinados tipos de eventos, que causam transtornos no trânsito da cidade, degradação no patrimônio público e histórico, e problemas como o barulho e som alto, que incomoda a vizinhança.
A flexibilização das medidas de proteção derivadas da pandemia, no início de 2022, permitiu que os eventos esportivos e culturais voltassem a acontecer no Centro Histórico de Mariana, principalmente nos arredores da Praça Gomes Freire, popularmente conhecida como Jardim, como a 37ª Corrida da Ressaca, realizada em março, e o Desafio Brou, em agosto. Nos finais de semana, até por volta das 22h, o Jardim é o ponto de encontro de inúmeras pessoas de todas as idades, atraídas pelos eventos, enquanto o comércio local, diretamente afetado pela movimentação, chega a registrar lucro até três vezes maior do que nos dias comuns.
O que é evento de praça e o que não é?
Desde o início do ano, diversos eventos ocorreram no Centro Histórico, e entre eles, o 13º Encontro Nacional de Motociclistas, de 26 a 28 de agosto, que chegou a reunir centenas de pessoas. Alguns comerciantes da região afirmaram que o acontecimento causou transtornos no trânsito com o fechamento das ruas próximas, além de outros problemas.
“Volume do som, banheiro público… É um negócio bem complicado. É trânsito… Algum cliente que você tem, que é da cidade, tem dificuldade de locomoção, não consegue chegar (no restaurante)”, contou Celso Quirino Neves, proprietário do restaurante Rancho, na rua Barão de Camargos, uma das vias ao redor do Jardim.
A proprietária de outro comércio da localidade, que preferiu não ser identificada, disse que a Praça Gomes Freire não possui infraestrutura para sediar eventos esportivos, e afirmou que eles deveriam ser sediados apenas na Arena Mariana, construída especificamente para essa finalidade. “Quando acontece evento esportivo na Praça, além de não comportar os atletas, o local não oferece estrutura nenhuma pra eles, além de causar um transtorno enorme para a população do entorno porque fecha todo o trânsito daqui”, afirmou.
Além disso, avalia que esses momentos são voltados para o público externo, de outras regiões. “Aí troca, né, o pessoal da cidade não vem porque as ruas ficam fechadas, e vem o pessoal de fora”. Ela também afirma que, por conta da alta demanda de turistas, muitos moradores e turistas ficam sem local para estacionamento. Outro problema apontado diz respeito à degradação pública: "Tem eventos que não são pro Jardim e que precisam ser em praças mais abertas, mais amplas porque, além de destruir a grama, o que já foi plantado, o pessoal pisa nos canteiros”, aponta.
“Falou evento, dá movimento!”
Por outro lado, há comerciantes que afirmam que esses eventos são de grande ajuda para o fluxo de caixa. A funcionária da sorveteria Summer Açaí, Elisângela da Silva Lopes, afirma que durante os finais de semana de eventos, as vendas do estabelecimento triplicam, e na maioria das vezes, o ambiente atinge a superlotação. “Qualquer tipo de evento é interessante. Falou em evento, dá movimento”, enfatizou.
Em determinados eventos, como no Encontro de Motociclistas, há o grande aumento do comércio de bebidas alcoólicas, e outros estabelecimentos precisam se organizar, no mínimo, com 20 dias de antecedência para comportar a grande demanda de pedidos, necessitando, ainda, da mudança de horários de funcionamento. “Se pudéssemos, teríamos dois eventos desse por mês”, disse a proprietária do comércio de bebidas Ponto Certo, Rosângela do Espírito Santo.
Uma vez que as vendas são triplicadas, há a consequente necessidade de aumentar o quadro de funcionários. Nesse sentido, os eventos do Centro Histórico têm auxiliado para a geração de empregos temporários. Rosângela, por exemplo, disse que dá preferência para os estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), que possui dois campi na cidade, afirmando que eles possuem mais disposição para a alta demanda de trabalho exigido nesses momentos.
Ela disse, ainda, que os acontecimentos que mais geram movimentação do comércio são o Iron Biker, evento voltado para ciclistas, que ocorreu em novembro de 2021, o carnaval da cidade e o Encontro de Palhaços, evento cultural promovido pelo grupo circense Circovolante, da cidade.
A Prefeitura de Mariana foi procurada, junto à Secretaria de Esportes e à Secretaria de Obras e Gestão Urbana, para se manifestar a respeito das queixas feitas pelos comerciantes, mas até o dia 13 de setembro não havia respondido às questões levantadas.
O que vem por aí
Os comerciantes já estão de olho nos preparativos para os próximos eventos que acontecerão na extensão da Praça Gomes Freire. Na última semana de outubro, entre os dias 13 e 16, acontecerá o 12º Encontro Nacional de Palhaços, que também irá se desdobrar para bairros e distritos da cidade. “Esse é um evento de praça porque é um evento familiar. Ele traz crianças, a programação é voltada para a família”, afirma Andréia Juliana Gomes, sócia-proprietária da Cervejaria Inconfidentes, localizada na Rua João Pinheiro.
Outro evento muito esperado é o Iron Biker Brasil, competição nacional de ciclistas que acontecerá entre os dias 16, 17 e 18 de setembro, ao redor do centro histórico e da Praça Gomes Freire.
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