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Faltam medicamentos para distribuição gratuita em Mariana

Atualizado: 16 de ago. de 2023


Os remédios para pacientes psiquiátricos são os que mais estão em falta na Farmácia Central de Mariana, o que afeta aqueles que dependem do programa para continuidade dos tratamentos

Laura Fernandes e Mayara Fernanda

Dona Mirtes mostra receita de seus medicamentos | Foto • Mayara Fernanda

#ParaTodosVerem: Mulher de pele escura, usando roupas claras. Ela está segurando a receita médica com as duas mãos. Unhas das mãos pintadas de azul. Foto tirada do pescoço para baixo.


Na Farmácia Central de Mariana, a escassez de remédios psicotrópicos - utilizados para tratamentos psiquiátricos - causa angústia aos pacientes que dependem dos medicamentos e que não têm condições de comprar, recorrendo à distribuição gratuita pelo Sistema Único de Saúde. O problema ocorre devido ao atraso das empresas na entrega dos pedidos, muitas vezes gerado pela falta de insumos e matéria-prima, situação agravada a partir do início da pandemia de covid-19.


A edição anterior do Lampião trouxe uma reportagem que tratou especificamente da distribuição de medicamentos na cidade vizinha, Ouro Preto. O material apresentou dados de setembro deste ano, da Confederação Nacional de Municípios (CNM), apontando que 65,2% dos municípios brasileiros não têm remédios e insumos básicos para atender a população.

Em Mariana, essa carência também é realidade, pois estão em falta aproximadamente 110 medicamentos na Farmácia Central. O que chama a atenção é que, em dezembro de 2022, 14 por cento dos medicamentos que estão pendentes são psicotrópicos.


A Assistência Farmacêutica de Mariana está vinculada ao Sistema Único de Saúde (SUS), oferece remédios para os munícipes de forma gratuita e contempla cinco unidades de farmácias em Mariana, distribuídas em diferentes áreas do município: Cabanas, Passagem de Mariana, Cachoeiro do Brumado e CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Além destas, concentrando a maior quantidade de atendimentos no município, a Farmácia Central, unidade anexa à Policlínica, atende cerca de 10 mil pacientes por mês.




De maneira geral, a escassez dos remédios na unidade central, principalmente os psicotrópicos, está relacionada ao atraso, ou até mesmo à ausência, de entrega dos medicamentos pelas empresas fornecedoras. Segundo Adriana Cotta, farmacêutica da Farmácia Central, algumas justificativas são “a falta de insumos e matérias-primas para produção dos medicamentos pelas indústrias farmacêuticas nacionais, devido à pandemia de Covid-19.” Além disso, ela também destacou que foi observado um aumento da demanda de medicamentos devido ao crescimento significativo da população flutuante do município de Mariana.


Adriana Cotta relatou que um dos medicamentos que está mais em falta no momento é o clonazepan, ansiolítico utilizado para o tratamento de distúrbios de ansiedade como síndrome do pânico, ansiedade generalizada e ansiedade social. Geralmente, os ansiolíticos são medicamentos de uso contínuo e que exigem rigor no tratamento a fim de evitar outros danos à saúde do paciente.


Segundo Ricardo Moedus, médico psiquiatra e professor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), a interrupção do tratamento psiquiátrico faz com que o seu efeito seja perdido. “As consequências dependem do diagnóstico de cada um, mas, em tese, quando o indivíduo interrompe o tratamento em um momento que não é o previsto pela recomendação, os sintomas iniciais voltam à tona”. Ou seja, se o paciente tinha um quadro depressivo grave, provavelmente, ele vai voltar a ter um quadro grave.


Mirtes de Paula, de 64 anos, é diagnosticada com depressão e faz uso da medicação fornecida pela Farmácia Central. Ela relata que já fazem dois meses que não encontra o clonazepam na distribuição gratuita, situação que a deixa apreensiva, pois mora no Distrito de Boa Vista, longe da cidade. “Moro longe e tenho medo de passar mal sem meus medicamentos, sinto muita tontura e dores na cabeça sem eles”, conta a idosa.


Sem a medicação correta, não restam muitas alternativas para a continuidade do tratamento. Muitos pacientes não têm condição de comprar os remédios e dependem diretamente da distribuição gratuita feita pelo programa de Assistência Farmacêutica, realidade de Michelle Aparecida, que ficou sem seus remédios durante um mês. “Entrei em desespero porque não tinha nenhum dinheiro”, contou ela.


Michelle, que é frentista em um posto de gasolina da cidade, relatou que para seguir com seu tratamento, precisa tomar quatro medicamentos, dois dos quais em falta na Farmácia Central: o alprazolam e a ciclobenzapina. Em situação parecida, Wanderson Martins, 26 anos, diagnosticado com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), faz uso do medicamento olanzapina e precisa retirar o medicamento de forma gratuita para seguir com seu tratamento. O psicoativo custa mais de cem reais e já faltou algumas vezes.


“Tomar o remédio deixa meu sono mais satisfatório, acordo mais disposto. Sem ele, voltam todos os sintomas”, relatou Wanderson, que sofre com o transtorno há mais de 2 anos e tem como um dos principais sintomas a necessidade de verificação constante. Este sintoma é classificado como um dos mais recorrentes em quem é acometido pelo transtorno.


O mais indicado no caso de falta do medicamento é procurar atendimento médico imediatamente. “Em alguns casos, se ainda tiver alguns comprimidos, dá para ir diminuindo a dose e reduzir, então, os efeitos colaterais da interrupção do tratamento. Mas, de toda forma, deve ser feito com acompanhamento profissional”, afirma o psiquiatra Moedus.




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