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Grafitagem: a falta de apoio do poder público e a união popular em Mariana

Atualizado: 16 de ago. de 2023

As artes de rua na cidade são cada vez mais restritas aos bairros distantes do Centro Histórico, desestimulando artistas locais, que peregrinam pelos grandes centros urbanos

Carolina Gabrich e Yan Lucas


O grafite é uma das variedades de elementos do movimento Hip-Hop, sendo os pilares: a dança, o desenho, a música e o canto. Essa relação a essas manifestações que nascem em espaços periféricos e têm grande influência da cultura negra, explica a presença dos grafites nas pistas de skate, esporte que também está relacionado ao movimento Hip-Hop.


Na edição número 40 do Lampião, de outubro de 2022, foi publicada a matéria: “À margem: cena do skate de Mariana sente abandono do poder público”, produzida por Gabriel Borges, Igor Varejano e Lucas Barbosa, que discutia a falta de apoio do poder público aos praticantes do esporte. Na pista de skate ao lado da Arena Mariana, os grafites chamam atenção por cobrirem todo o espaço.


#ParaTodosVerem: Parede da pista de skate com fundo verde água contém grafites de vários rostos, além do desenho de uma skatista loira, usando proteção nos cotovelos e joelhos. Os grafites estão quase todos cobertos por pichações, com as frases: “Respeita as mina” e “Poliamor”, além de tags.

Grafites e pichações na pista de skate da Arena Mariana | Foto • Carolina Gabrich e Yan Lucas

#ParaTodosVerem: Parede da pista de skate com fundo verde água contém grafites de vários rostos, além do desenho de uma skatista loira, usando proteção nos cotovelos e joelhos. Os grafites estão quase todos cobertos por pichações, com as frases: “Respeita as mina” e “Poliamor”, além de tags.


O olhar do artista local


Apesar da presença dos grafites em algumas paredes dos bairros de Mariana, o artista urbano Bruno Mine, 28 anos, reclama da falta de espaço para os grafiteiros na região central marianense. “Mariana tem um problema sério no que diz respeito à educação patrimonial, de uma forma geral. Não no sentido de preservar, de não pichar. Mas, no sentido de colocar Mariana como uma cidade histórica em sua totalidade. E, Mariana é cheia de periferias, o Cabanas é praticamente uma cidade à parte.


Convenciona-se, entre muitas pessoas, que não se pode fazer grafite em Mariana. As casas do Centro Histórico estão muito à mercê da especulação imobiliária”. O grafiteiro ainda comenta que até mesmo a parede de uma Igreja pode ser um local apropriado para o grafite. Através de negociações, seria possível expor as obras por um período de tempo limitado, por exemplo.


A falta de incentivo para a prática da grafitagem na cidade desvaloriza o trabalho dos artistas de rua, fazendo com que muitas pessoas se mudem ou busquem migrar para Belo Horizonte, ou outras capitais e municípios mais receptivos a essa intervenção artística.


Grandes cidades com ampla diversidade cultural normalizam e incentivam as artes urbanas, com vários projetos de grafite. Em BH, por exemplo, em várias fachadas de prédios no Centro da cidade foram realizados desenhos que colorem ainda mais a capital e democratizam o acesso à arte do grafite.


“Em outras cidades, geralmente grandes centros, vemos que a arte é do costume da cidade (...)Aqui em Mariana e Ouro Preto não existe esse costume, ainda é bem restrito. Especialmente Belo Horizonte, quando você vai pra lá, até se espanta com o tanto de arte”, diz Bruno.



#ParaTodosVerem: Casa de dois andares. Em frente há uma parada de ônibus com uma rampa de acessibilidade para cadeirantes na calçada. Todos os dois andares foram pintados, com fundo azul, verde e vermelho. Foram pintadas diversas pessoas, em sua maioria negras, com algumas pessoas pardas e brancas. Dois homens estão usando a camisa do Atlético e do Brasil. A casa se destaca em meio às vizinhas.

Grafite do artista Bruno Mine em uma casa no Bairro Santo Antônio, mais conhecido como Prainha, em Mariana | Foto • Bruno Mine

#ParaTodosVerem: Casa de dois andares. Em frente há uma parada de ônibus com uma rampa de acessibilidade para cadeirantes na calçada. Todos os dois andares foram pintados, com fundo azul, verde e vermelho. Foram pintadas diversas pessoas, em sua maioria negras, com algumas pessoas pardas e brancas. Dois homens estão usando a camisa do Atlético e do Brasil. A casa se destaca em meio às vizinhas.


Aceitação


Uma das pessoas que trabalham com grafite em Belo Horizonte é o ilustrador, pintor e muralista, Binho Barreto, 48 anos, que coleciona trabalhos em arte de rua. Binho acredita que a sociedade atual, principalmente entre as novas gerações, está aceitando muito mais o grafite do que antigamente, apesar de ponderar que nos últimos anos, com o atual governo, a repressão ao movimento artístico nas ruas aumentou.


O especialista em arte de rua ainda diz que os grafites, em sua maioria, são mais valorizados em comparação com o “pixo”, que ocupa um local mais marginalizado. “Eu entendo que parte da população tem uma certa antipatia com o pixo e com algumas vertentes do grafite, menos elaborados. Porém, até os que são mais aceitos, não são tão valorizados financeiramente. É uma luta dos artistas urbanos que já dura muito tempo”, afirma Binho.


Binho acredita que no grafite e no pichação não tem certo e errado, pelo contrário, eles se correlacionam. “A questão é que tem ligação com a diversidade humana a forma que as pessoas pintam e se expressam, e tanto as artes com autorização para serem feitas e também as ilegais podem ser transgressoras, não se pode ter uma dicotomia, as expressões são diferentes em cada caso”, completa o especialista em arte urbana.

#ParaTodosVerem: Grafite feito em fachada laranja de um edifício. Nela é possível observar o desenho de um grande homem em preto e branco, com uma robusta barba. À direita, passa um homem desfocado, de boné e regata amarelo claro. À direita, também, é possível ver uma janela branca de grades marrons.

Arte realizada por Binho Barreto no Bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte | Reprodução • Instagram: @Binhobarreto1

#ParaTodosVerem: Grafite feito em fachada laranja de um edifício. Nela é possível observar o desenho de um grande homem em preto e branco, com uma robusta barba. À direita, passa um homem desfocado, de boné e regata amarelo claro. À direita, também, é possível ver uma janela branca de grades marrons.

#ParaTodosVerem: Grafite realizado em um muro. Nele é possível observar uma bela paisagem com vários rios e cachoeiras em uma área verde. Além de ser destacado um pinguim com vestimentas humanas, uma camiseta listrada, nas cores rosa, vermelho, branco e azul, além de um chapéu de palha. Ao fundo é possível ver um céu aberto com nuvens, arco-íris e sol.

Arte realizada por Binho Barreto, no Bairro Dom Cabral, em Belo Horizonte | Reprodução • Instagram: @Binhobarreto1

#ParaTodosVerem: Grafite realizado em um muro. Nele é possível observar uma bela paisagem com vários rios e cachoeiras em uma área verde. Além de ser destacado um pinguim com vestimentas humanas, uma camiseta listrada, nas cores rosa, vermelho, branco e azul, além de um chapéu de palha. Ao fundo é possível ver um céu aberto com nuvens, arco-íris e sol.

#ParaTodosVerem: Imagem de um cantor de rap, em preto e branco num fundo laranja, em homenagem ao aniversário de 15 anos do Duelo de MCs. Ele usa um boné, jeans e uma blusa escrito “Democracia”. O desenho foi feito em uma pilastra do viaduto de Santa Tereza, em Belo Horizonte.

Arte realizada por Binho Barreto no Viaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte | Reprodução • Instagram: @Binhobarreto1

#ParaTodosVerem: Imagem de um cantor de rap, em preto e branco num fundo laranja, em homenagem ao aniversário de 15 anos do Duelo de MCs. Ele usa um boné, jeans e uma blusa escrito “Democracia”. O desenho foi feito em uma pilastra do viaduto de Santa Tereza, em Belo Horizonte.


Ao contrário do que acontece no Centro Histórico de Mariana, os bairros periféricos costumam ser locais acolhedores para a arte de rua, de acordo com Bruno. O artista comenta que muitas pessoas cedem os muros de suas casas para a grafitagem, e que o próprio processo de produção da arte conta com o envolvimento dos moradores. “Alguns dos moradores oferecem alimentação para os artistas que passam o dia, ou até mesmo a semana, dependendo da complexidade da obra, grafitando. As pessoas também param para fazer registros fotográficos e perguntar sobre a arte”, conclui Bruno.



#ParaTodosVerem: Homem, de blusa azul manchada de tinta e jeans azul, posa tocando saxofone dourado em frente a uma garagem onde há o grafite de Bruno Mine na porta. O grafite apresenta a imagem de um menino negro com o rosto flutuando, os olhos são duas portas pretas e acima das orelhas estão um par de asas, o rosto é sombreado com tinta amarela. A garagem está na esquina, com uma placa que indica: Rua Porto Alegre, em azul.

Morador de Mariana tocando saxofone em frente ao grafite produzido por Bruno Mine | Foto • Bruno Mine.

#ParaTodosVerem: Homem, de blusa azul manchada de tinta e jeans azul, posa tocando saxofone dourado em frente a uma garagem onde há o grafite de Bruno Mine na porta. O grafite apresenta a imagem de um menino negro com o rosto flutuando, os olhos são duas portas pretas e acima das orelhas estão um par de asas, o rosto é sombreado com tinta amarela. A garagem está na esquina, com uma placa que indica: Rua Porto Alegre, em azul.


A moradora do Bairro Prainha, Eloár Abner, 25 anos, afirma que os grafites chamam a atenção dos moradores do bairro, e complementa: “Eu acho bem bacana o movimento cultural dos grafites, porque é uma forma da pessoa se expressar”. A opinião de Eloár vai ao encontro com o que os moradores que cedem os muros de suas casas e estabelecimentos para a manifestação artística pensam. Contudo, esse apoio não é demonstrado pela prefeitura, que não se movimenta para expor o potencial cultural dos grafiteiros marianenses.


A Prefeitura de Mariana foi acionada, por meio do contato telefônico com a assessoria do prefeito. Fomos encaminhados para a Secretaria de Cultura, porém o secretário não esclareceu nossas dúvidas, alegando falta de tempo para dar entrevista. Até a publicação desta matéria, não obtivemos retorno da Secretaria de Cultura de Mariana a respeito do incentivo, ou a falta dele, ao grafite.






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