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As problemáticas da rota de ônibus Mariana X Ouro Preto

Atualizado: 8 de ago. de 2023

A superlotação, o preço alto e a falta de ônibus são os problemas mais comuns enfrentados pelos passageiros que utilizam o transporte público nesse trecho

Passageiros entrando no ônibus da rota Mariana x Ouro Preto e ficando em pé | Foto • Lívia Santesso

Camila Chaves e Lívia Santesso


O serviço de transporte urbano é um dos mais utilizados pelos brasileiros, principalmente em pequenas cidades, como é o caso de Mariana e Ouro Preto. A migração oscilante entre os municípios é recorrente na vida da população local e a utilização do transporte público é fundamental para esse deslocamento. Contudo, a falta de ônibus, a superlotação e o aumento recorrente do preço da passagem são reclamações diárias dos passageiros.


De acordo com um tradicional anuário produzido pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), foram feitas 22,4 milhões de viagens com passageiros pagantes por dia no Brasil, em 2021. É inegável afirmar que, além de ser um serviço utilizado por milhares de pessoas diariamente, também é uma necessidade básica e indispensável para a população brasileira.


Nos municípios de Mariana e Ouro Preto essa situação não é diferente. Por se tratarem, ao mesmo tempo, de cidades históricas e universitárias, o trajeto entre elas é muito utilizado. Diversos moradores e estudantes precisam dessa rota diariamente com o intuito de chegar até o trabalho, escola ou faculdade. Acontece muito, por exemplo, de um estudante ou trabalhador morar em Ouro Preto e estudar em Mariana. Com isso, as rotas de ônibus entre Mariana X Ouro Preto ou Mariana X Saramenha, bairro de Ouro Preto, são imprescindíveis no dia a dia dessas pessoas.


Ponto de ônibus cheio com passageiros aguardando o transporte | Foto • Lívia Santesso

Acontece que esse trajeto, oferecido pela empresa de ônibus Transcotta, sofreu algumas alterações no funcionamento, de alguns anos para cá, como o aumento no preço da passagem que, entre 2018 e 2022, sofreu um reajuste de 27%, passando de R$5,00 para R$6,35. Outra mudança sentida pelos usuários do coletivo diz respeito ao conforto, pois nos horários de pico existe apenas um ônibus realizando cada rota.


O trajeto entre as cidades, que tem 14,5 km de distância e um tempo médio de 27 minutos, pode chegar a demorar 1 hora, com o coletivo transportando além da capacidade máxima de lotação de 40 pessoas, forçando muitos passageiros a fazerem a rota em pé e apertadas. Mesmo diante destas condições o motorista continua parando nos pontos e permitindo que mais passageiros entrem. A situação não foi diferente no período pós-isolamento social. Logo que as atividades começaram a retornar, ainda sem a população estar corretamente imunizada, o transporte continuava lotado, aumentando o risco de contaminação por Covid-19.


A estudante de jornalismo, Mariana Carvalho, realiza a rota três vezes por semana e reclama do aumento da passagem e do desconforto dentro do ônibus: "O que eu percebo é que tá tendo uma diminuição nos horários de ônibus, o que faz com que ele fique cada vez mais cheio. A gente paga a mais, mas o serviço não melhora. Nas últimas vezes que precisei pegar esse ônibus consegui ir sentada de Ouro Preto para Mariana, mas em todas as voltas precisei ir em pé”.


Logo, inicia-se o questionamento: como pode o aumento da passagem ser tão significativo e recorrente se o conforto dentro do ônibus não segue o mesmo padrão? A taxa cobrada pela empresa não acompanha a qualidade do serviço prestado, e se o cidadão está pagando a mais por um produto ou serviço, o resultado a ser entregue a ele também deveria ser maior. Não há novos ônibus na frota ou um aumento na oferta de horários, nesse caso, seria oferecer melhores condições de transporte para quem paga a passagem.


O Lampião Digital questionou a empresa Transcotta a respeito do aumento da passagem e da quantidade de viagens que são realizadas diariamente com uma lotação maior do que o permitido. O gerente de Relações Institucionais da empresa, Guilherme Schulz, afirmou que “existe um acompanhamento diário do volume de passageiros transportados e incrementos na operação com adição de horários conforme essa demanda vai aumentando”. “O fluxo de passageiros diminui após às 19h, então, o horário também fica mais espaçado".


Em uma busca feita no site Reclame Aqui, foi possível encontrar alguns comentários de usuários que contradizem a empresa, como o publicado por um usuário anônimo, no dia 27 de junho: “Absurdo, toda vez é a mesma coisa, horário de 18 horas parece que o ônibus não passa!!! Nem de Ouro Preto x Mariana e nem de Mariana x Ouro Preto! Sendo que é o horário mais cheio onde as pessoas estão saindo do trabalho, indo pra aula e voltando, pelo amor de Deus, com passagem a 6,35 você ainda fica 1 hora esperando! Sério, vocês deveriam ter vergonha”.


Esta reclamação vai contra o argumento da empresa de que existe um acompanhamento diário do volume de passageiros e que a adição de ônibus é realizada a partir da demanda.


Dados


De acordo com o Diário do Transporte, o Brasil possui o segundo transporte público mais caro da América do Sul, perdendo apenas para o Chile. Segundo a pesquisa, a população brasileira gasta, em média, pelo menos R$214,00 por mês em transporte coletivo, o que equivale a 17,66% do salário mínimo atual (que é de R$1.212,00). O valor considera que cada indivíduo paga pelo menos duas passagens por dia durante o trajeto de ida e volta.

Para quem utiliza o transporte todos os dias úteis, no caso dessa rota, soma-se no final do mês o total de R$254,00 gastos durante 20 dias em um trajeto entre duas cidades próximas. Esse valor, no caso de quem trabalha, na maioria das vezes é descontado diretamente do salário. Portanto, é um gasto alto que faz diferença no bolso do trabalhador no final do mês.


Morador de Mariana que utiliza o transporte público diariamente para trabalhar em Ouro Preto, Carlos Flávio, reclama. “Eu não ganho vale não, tenho que descontar esse valor nas minhas contas todo mês, então, a gente torce pra isso melhorar, né? Tá muito caro mesmo, aí a gente chega no ônibus cansado querendo chegar em casa e é aquela demora, um tantão de gente”, afirma. Quem determina a redução ou aumento no valor de passagens intermunicipais é a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade, seguindo as solicitações das empresas. Aconteceu assim em maio deste ano, quando as passagens intermunicipais tiveram um reajuste de 17,54%.


A falta do poder de negociação dos órgãos públicos dos municípios com a empresa responsável pelo transporte público nas cidades de Mariana e Ouro preto acarreta no grande impacto financeiro dos gastos com o transporte nas contas do cidadão. Enquanto uma atitude a favor dos passageiros não for tomada pelo poder público em diálogo com a transportadora, os trabalhadores e os estudantes seguirão contando moedas para pagar a passagem.



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