Direito básico é precarizado e moradores relatam descaso da Saneouro, responsável pela gestão do saneamento básico de Ouro Preto
Igor Guimarães Levy Eduardo Nikolle Gandra
Subdistrito de Ouro Preto é conhecido por seus recursos hídricos, mas mesmo assim seus moradores enfrentam desafios
para garantir seu direito a água | Foto: Nikolle Gandra
Conhecida como “Terra da Santa”, a Vila Chapada é um subdistrito de Ouro Preto. O povoado, surgido no século XVIII, conta com cerca de 80 habitantes e é ponto turístico para visitantes que exploram a localidade anualmente. Sua principal atração é aquilo que tem faltado nas torneiras daqueles que residem há décadas no local: a água. A chegada da Saneouro, em 2019, foi o marco inicial da luta da comunidade pelo direito a esse bem.
A privatização da água em Ouro Preto se iniciou em 2019, em um contrato firmado entre a Prefeitura de Ouro Preto, sob a gestão do ex-prefeito Júlio Ernesto, e a Saneouro, um consórcio formado pelas empresas GS Inima Brasil e MIP. Após a realização do acordo, moradores de Ouro Preto viram suas contas de água chegando em valores que ultrapassam R$500. A situação na cidade não difere do acontecido na Vila Chapada. Um dos moradores mais antigos da Vila, Antônio Teotônio, que sobrevive com um salário mínimo, viu sua conta de água atingir o valor de R$1 mil.
A Vila Chapada também luta pela qualidade da água. Contando com um reservatório que abastece todos da região, a água que chega na caixa provém de nascentes. Moradores relatam que, após a chegada da empresa, o tratamento da água tem sido feito de maneira inapropriada para o consumo. “Sou criador de peixe, de camarão ornamental e eu tenho uns aquários aqui. Coincidentemente eu faço testes na água, e a gente tem que fazer para ver se o bicho vai viver, e o que acontece? Nunca consegui colocar a água da Saneouro nos meus aquários”, relata Paulo Eduardo Drumond, morador da Vila.
Vídeos feitos por moradores mostram a água do reservatório repleta de uma espuma branca e densa, que acreditam se tratar de excesso de cloro. Além disso, há também imagens gravadas de uma água barrenta, a mesma utilizada para o consumo. Essas imagens foram registradas quando a comunidade, que já tinha o costume de cuidar da caixa d’água, se juntou para fazer a sua limpeza. Após a ação, a empresa entrou com um processo contra a comunidade e trancou o reservatório, impossibilitando o acesso pelos moradores.
Segundo Ana Conceição Guimarães, conhecida também como Preta da Chapada, ex-líder da associação de moradores da Vila, a chegada da Saneouro tirou deles aquilo que sempre os pertenceu. “Eu sinto que a gente invadiu o espaço da Saneouro, parece que a comunidade que chegou aqui agora e está tomando posse da água da Saneouro”.
Confira a reportagem para entender mais:
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