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Zé Pereira dos Lacaios retorna com as apresentações no Carnaval de Ouro Preto

Atualizado: 16 de ago. de 2023

O bloco faz parte da vida dos ouro-pretanos há 156 anos

Bruna Amorim e Sabrina Pereira


Depois de um longo período de reclusão, em decorrência da Covid-19, ele voltou! O bloco Zé Pereira do Club dos Lacaios foi uma das principais atrações do Carnaval de Ouro de Preto, com seus bonecos feitos de papel machê e cores vívidas, tudo isso ao som emocionante dos batuques. Sem desfilar no Carnaval há dois anos, saiu às ruas nos festejos de 2023, partindo de sua sede, na Rua Santa Efigênia, até a Praça Tiradentes.


Com uma jornada carnavalesca tão duradoura, o Zé Pereira é um grande marco na história e tradição do Carnaval ouro-pretano, com 156 anos de existência. Por isso, a equipe do Lampião foi até a sede e nos ensaios de pré-carnaval para conhecer melhor a trajetória do Club e sua preparação de retorno.


O serralheiro Guilherme Gonçalves, 46, participou do ensaio do Zé Pereirinha para o Carnaval de 2023, realizado no dia 5 de fevereiro. O "lacaio", que tem 25 anos de jornada na agremiação, toca bumbo e é o responsável por sinalizar a mudança de toque. Guilherme é referência para os zé pereirinhas que se inspiram nele, seguindo com bumbos durante as apresentações. "O Zé Pereira é paixão, eterna paixão", descreve ele.


No ensaio, ele estava acompanhado por sua namorada, a empresária do ramo de eventos Aline Lopes, 42, que toca o instrumento há aproximadamente seis anos. Incentivada por Guilherme, ela foi a primeira mulher instrumentista no Zé Pereira. A agremiação, que era prioritariamente masculina, não se opôs à sua chegada. A partir disso, Aline abriu portas para outras mulheres também participarem da musicalidade do Club, que, inspiradas em seu posicionamento, agora também participam com instrumentos das apresentações. "A vida inteira o Zé Pereira foi formado por homens e eu acabei quebrando isso, apesar de ter sentido alguns olhares estranhos, no início", afirma.


O casal relata que sentiu bastante a ausência do Zé Pereira nas ruas durante o tempo de pausa da pandemia da Covid-19. "Esses dois anos foram complicados, a tristeza que sentimos de não poder sair, fizemos apresentação do Zé Pereira online. A Covid veio e arrasou muitas famílias, inclusive familiares de membros", relata Guilherme.


Eles reforçam que mantiveram o contato constante entre os membros para que os laços continuassem fortalecidos. Agora, com o retorno às ruas, estão em êxtase de felicidade. "É incrível subir a ladeira tocando aquele bumbo pesado, você nem sente o peso dele porque a energia é tão gostosa, a gente arrepia a todo momento. O povo tocando atrás, o povo brincando, gritando, é família, é criança, não tem um que não goste do Zé Pereira", relata Aline.



As fotografias de arquivo do Zé Pereira, registradas entre as décadas de 1950 e 1970, contam um pouco da história da agremiação. Nelas, a presença de personagens tradicionais do Club como a Baiana, Benedito, Cariá, Catitão, Homem do Burrinho, entre outros, fazem prova de que o Zé Pereira mantém viva tradições e costumes originários do bloco.

Fotos • Arquivo Zé Pereira


História


Fundado em 1867, o bloco é a mais antiga agremiação carnavalesca em atividade no Brasil, segundo relatos históricos e arquivos fotográficos. O grupo conta com 70 membros e a comunidade tem uma participação ativa na produção, desde os ensaios até o Carnaval.


A última apresentação no Carnaval aconteceu em 2020. Durante esses dois anos de reclusão, o grupo realizou atividades internas, dentre elas, destaca-se a inauguração do Centro de Memória do Club dos Lacaios, inaugurado em fevereiro de 2021, um memorial permanente que pode ser visitado na sede do bloco na Rua Santa Efigênia, no Bairro Antônio Dias. Além disso, foram realizadas pesquisas importantes para os resgates históricos realizados.


O presidente do bloco, Arthur Ramos, participa desde os 11 anos de idade por incentivo da sua avó. Ele falou sobre a importância da preservação da história e também do valor afetivo da agremiação para os moradores de Ouro Preto. “Tem os membros antiquíssimos aqui, tem gente que faz parte do bloco porque o avô do avô, do avô já havia tocado aqui. É muito interessante, é uma história muito longa, muito bonita e tem um valor muito afetivo. Todo mundo tem uma opinião formada sobre o Zé Pereira, por ouvir histórias contadas pelos familiares e conhecidos. Por isso, às vezes acontece esse embate de querer falar que sabe mais do que o outro. Eu estudei muitos documentos antigos do nosso acervo, para conseguir deixá-lo da forma que está hoje. Além disso, recuperei muita coisa, peguei isso aqui destruído e ajudei a reconstruir”, relata.


Questionado sobre os preparativos para o pré-carnaval, ele ressalta: “A expectativa é alta e a agremiação está muito feliz com essa importante retomada no Carnaval. O retorno da população, que também tem um carinho muito especial pelo Zé Pereira dos Lacaios, tem feito toda a diferença”, concluiu Arthur, presidente do bloco desde 2016.


A secretária Municipal de Cultura e Turismo de Ouro Preto, Margareth Monteiro, destacou o valor do bloco para a cultura ouro-pretana. “A volta do Bloco Zé Pereira Club dos Lacaios às ruas de Ouro Preto é muito importante, considerando a sua relevância no cenário carnavalesco da cidade. O bloco, fundado em 1867, tinha a função de trazer alegria, diversão, música, batuque e dança, num período anterior à quaresma, durante o carnaval. Essa agremiação carnavalesca é mantida há 155 anos sem nenhuma interrupção, sendo que sua sede foi fechada apenas no período de pandemia, mas ainda durante a reclusão, conseguimos, junto com a presidência e os componentes, criar um memorial para que o bloco não caísse no esquecimento”.



Cultura


O Club busca constantemente preservar sua história, por isso se dedicam ao resgate de elementos tradicionais e importantes para agremiação. A sede da agremiação, registrada nas imagens, é o local que reúne essas memórias. Fotos • Bruna Amorim


Zé Pereira dos Lacaios tornou-se parte da cultura popular do povo ouro-pretano, consolidando-se como uma das instituições mais antigas da cidade. É um bloco composto pelos bonecos chamados “catitões” que representam alguns personagens, como o Zé Pereira, a boneca cobiçada, os gordos, que são seguidos pelos cariás, palhaços, mulinhas, o boi, entre outros. Logo atrás vai a bateria vestida de amarelo e preto, as cores do bloco.


O Carnaval "Cidade Imperial de Ouro Preto", de 2023, ocorreu na quinta-feira (16), e esteve presente nas ruas até terça-feira (21). Na Praça Tiradentes, o Zé Pereira desfilou no lançamento da edição (dia 16), às 20h, e no mesmo local e horário também no sábado (18). No domingo (19), e na terça-feira (21), o Zé Pereira Mirim tomou conta das apresentações às 14h30. Foi um retorno histórico que marcou os corações ouro-pretanos.



















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