A arte aldravista já é conhecida internacionalmente na educação de crianças e jovens, mas qual a origem e quais as aplicações dela fora das escolas?
Danielle Herculano, Leonardo Grein
Mariana
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doce
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montanhas
(Andreia Donadon Leal)
Esta poesia, composta de seis versos contendo uma palavra cada, é uma aldravia sobre a cidade de Mariana, Minas Gerais. O município, que carrega a alcunha de Primaz de Minas, também é o berço do Movimento da Arte Aldravista, criado em outubro de 2000 pelos poetas Andreia Donadon Leal, Gabriel Bicalho, José Benedito Donadon-Leal e o saudoso José Sebastião Ferreira.
O termo aldravista foi inspirado em um acessório comum em portas antigas, chamado aldrava. Este tinha o propósito de trancar, bater e abrir as portas. A partir daí, em 2010, os poetas criaram as aldravias, uma nova forma de poesia batizada a partir da junção de aldrava com “vias”, como um caminho a ser seguido.
O objetivo dos poetas é simples: promover a arte, em suas mais diversas formas; livre das imposições técnicas e estéticas dos acadêmicos e críticos das artes e literatura. Na arte aldravista, a liberdade de interpretação e de produção fazem com que o primeiro contato não seja uma experiência cansativa, conta uma das fundadoras do Movimento, Andreia Donadon Leal.
Em entrevista cedida na Casa da Arte Aldravista, no bairro Chácara, a autora conta que “[A arte aldravista] é uma ferramenta educacional muito potente, que tem ampliado o estudo e o encantamento pela poesia. O leitor se transforma também em protagonista; em escritor, ele se sente tomado pela forma, mas também incentivado a produzir”.
A professora de Língua Portuguesa da Escola Estadual Dom Silvério, Beatriz Latini, também reconhece o potencial da arte e afirma que os poemas aldravistas são abordados com os terceiros anos, que estudam os movimentos contemporâneos de arte e literatura nas aulas de português. Segundo ela, o primeiro impacto dos estudantes “é o incômodo, mas depois eles vão entrando num clima poético, vão soltando os sentimentos e no final sempre dizem ‘nossa, professora, foi gostoso de fazer’”, completa Beatriz.
E os estudantes também comprovam a eficácia das aldravias no papel de introduzir os alunos às letras. “Meu primeiro contato com as aldravias foi em 2019. Eu achei bem interessante. Você constrói muito conteúdo em um verso de seis palavras, apenas”, conta Gabrielly Gomes, 17, estudante da Escola Estadual Dom Silvério.
Quando questionada se continuaria escrevendo poemas aldravistas, a estudante afirmou “com certeza” que não iria abandonar a prática. “É muito bom escrever aldravias pois você consegue se expressar, se mostrar”, completa Gabrielly.
Para saber mais sobre a arte aldravista na educação, confira o podcast “O caminho da poesia: as aldravias na educação marianense”.
Para além do ensino
Fora das escolas, há inúmeras pessoas descobrindo outras aplicações para a Arte Aldravista. Um estudo realizado em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras drogas de Vitória, Espírito Santo, buscou entender os impactos das aldravias aplicadas à arteterapia para dependentes químicos.
O estudo comprovou que a produção de aldravias pelos participantes “possibilita a expressão e a síntese das memórias e dos sentimentos emergentes no processo terapêutico”, segundo a pesquisa publicada pelas autoras Andréa Roman e Ilioni Augusta da Costa. No documento ainda é possível conferir relatos dos participantes (que tiveram suas identidades preservadas) afirmando que as atividades desenvolvidas ajudaram a relaxar e desabrochar sentimentos reprimidos.
A arte aldravista também é usada na ressocialização de detentos, como ocorreu na Penitenciária de Semiaberta Masculina de Colatina, também no Espírito Santo. Por meio do Projeto Aldravias Abrindo Portas, os internos estudantes de ensino fundamental e médio puderam conhecer as obras aldravistas.
Segundo Andreia Donadon, há um projeto sendo discutido com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) de Minas Gerais, que pretende implantar a arte aldravista nas unidades prisionais do estado.
A ideia é começar com os presídios de Mariana e, depois, expandir para todo o território mineiro. A autora revelou ainda que no dia 13 de setembro, durante a 1ª Semana Municipal da Arte Aldravista, ministrou uma oficina para os pedagogos e responsáveis da Secretaria.
A importância para a cidade
Em novembro de 2021, a Prefeitura de Mariana incluiu o Dia da Arte Aldravista e a Semana da Arte Aldravista no calendário municipal, sendo celebrados em 17 de setembro, na terceira semana do mês.
Para o primeiro ano de celebrações, os estudantes de todas as escolas do município receberam o livro didático “O ABC das aldravias nas sendas da aldravia”, que reúne atividades de língua portuguesa, literatura, alfabetização, matemática, artes e química.
O mesmo livro também será utilizado no projeto que está sendo desenvolvido para os presídios da cidade. Andreia Donadon, que também organizou o material, conta que “hoje, a aldravia está em Mariana. Ela atingiu o seu ápice quando entrou para rede municipal de ensino de forma oficial, e ela já está em Pernambuco, no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Portugal, na Espanha, na França…”, completa a poeta.
A arte aldravista, portanto, está sendo reconhecida nacional e internacionalmente pelo seu potencial como ferramenta educativa. Ainda assim, ela possui aplicações que extrapolam as salas de aula.
As produções artísticas aldravistas também não se restringem apenas aos poemas. Por isso, para conferir os desdobramentos da arte aldravista nas artes plásticas, confira também o tour virtual na Casa da Arte Aldravista, localizado no bairro da Chácara, em Mariana, Minas Gerais.
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