top of page

Biblioteca Municipal lida com descaso financeiro do poder público

Atualizado: 16 de ago. de 2023

O baixo repasse de verbas compromete a estrutura e a manutenção das obras que compõem o acervo do local

Por Amanda Maia, Lívia Vieira e Marcella Pontes

Fachada da Biblioteca Benjamin Lemos

Fachada da Biblioteca Municipal Benjamin Lemos localizada na rua Barão de Camargos em Mariana | Foto • Marcella Pontes


A Biblioteca Municipal Benjamim Lemos encontra-se em situação de descuido por parte do Governo Municipal, que negligencia os problemas na estrutura e na manutenção do acervo. Entre os desafios que dificultam a conservação do casarão com mais de 200 anos, estão paredes com rachaduras, goteiras que comprometem a durabilidade dos livros, mofo, vidros quebrados, pichações nas paredes e falta de extintores de incêndio.


Localizada na Rua Barão de Camargos, em Mariana, a biblioteca é um dos diversos pontos de incentivo à leitura e que busca facilitar o acesso à informação, cultura e história para a população. Ela idealiza projetos para atender a comunidade tanto na área urbana quanto rural, mas que ainda não foram implementados por falta de investimento do poder público.


Livros raros armazenados de maneira incorreta pela falta de um ar condicionado que contribua para a conservação do acervo. Local com infiltração, mofo nas paredes, compromete a estrutura da biblioteca | Foto • Amanda Maia


O coordenador de biblioteca e de acervo material, Alexandre Soares, conta que a última vez que a biblioteca recebeu uma reforma foi em 1993, há 30 anos. “Desde então, tentamos todos os anos com a Prefeitura uma iniciativa para uma reforma do prédio. No ano de 2017, implementamos algumas medidas de inclusão para deficientes visuais, como a instalação do piso tátil. Nessa época, foi criado também um projeto, pela equipe responsável, de uma nova estrutura e, a partir disso, realizamos a compra de objetos a serem instalados. O projeto não entrou em execução e hoje temos equipamentos parados sem uso”, conta.


Segundo o coordenador, a última reparação no prédio ocorreu em 2022, quando o espaço passou por uma intervenção realizada pela Escola de Ofícios Tradicionais de Mariana, após um acidente de carro que danificou a parede externa da biblioteca. No entanto, o reparo não foi suficiente para solucionar os problemas estruturais do antigo casarão, o que compromete a segurança não só dos funcionários como também dos visitantes no local. Soares destacou as rachaduras no teto da seção de leitura, dedicada ao público infantil. A água das chuvas cai pelas paredes da sala e escorre para o porão, local onde ficam armazenadas as obras raras da biblioteca, datadas de 1813.


Infiltração no canto de uma parede ao lado de uma prateleira de gibis.

Infiltração ao lado da prateleiras de gibis compromete a conservação dos livros | Foto • Amanda Maia


Outro ponto observado é a fachada da Biblioteca Municipal que, apesar dos reparos, ainda apresenta danos. A parte interna possui um inclinação que compromete a estrutura da construção.


Em frente ao local observa-se o prédio histórico com fachada em condições precárias,rachaduras e paredes manchadas |

Foto • Amanda Maia


Entre os títulos mais antigos no acervo da Benjamim Lemos, há obras raras que estão sendo perdidas em decorrência da falta de um ar condicionado para manter uma temperatura que conserve estes livros, inibindo fungos e traças que podem estragar esses materiais. A carência no repasse financeiro dificulta a compra de instrumentos para que os funcionários manuseiem essas peças, como máscaras e luvas. Esse cuidado é necessário para preservar as páginas e proteger a saúde humana de problemas respiratórios ocasionados pelo contato.


Livro “Primeiro Ensaio sobre História Literária de Portugal”, um dos livros mais antigos no acervo de obras raras apresentam assinaturas de grandes personalidades brasileiras e internacionais | Foto • Arquivo da biblioteca


A Secretaria de Planejamento, Suprimentos e Transparência argumentou que não existe nenhum custeio específico na Lei Orçamentária Anual (LOA) ou na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) dirigido à instituição, e que os repasses existentes são feitos pela Secretaria de Cultura, Patrimônio Histórico, Turismo e Lazer. Essa, por sua vez, informou que ainda não há nada planejado para a biblioteca. Anteriormente, o espaço era de posse da Secretaria de Educação, e até o presente momento o local não esteve em pauta nos orçamentos da pasta a que pertence atualmente.


Entretanto, ao analisar os investimentos financeiros da Prefeitura na Biblioteca Municipal Benjamim Lemos, nota-se que, neste ano, foi destinado pela LOA um repasse de R$100 mil, valor 58.8% menor se comparado ao ano anterior, R$170 mil, e ainda assim 31% maior se comparado ao orçamento destinado em 2020, de R$69 mil reais.


Assim, sem investimentos para organizar sua estrutura e fortalecer a segurança do local, a biblioteca acaba sem possibilidades de efetiva interação com a comunidade. Sobre isso, as participantes do projeto Loucos por Leitura, Gisele Alves e Débora Santos comentam: “Acho que biblioteca física tem enfrentado essa dificuldade de adesão ao público, mas o acesso à cultura não pode se dar só digitalmente, ele facilita bastante, mas eu acho que o livro físico tem um potencial maior, principalmente livro infantil. Você vê as imagens, brinca com o livro, então é crucial resgatar o público para esse espaço. Por isso, é necessário o investimento para que as pessoas possam ter acesso com qualidade e queiram estar inseridas nesses locais”.


Área infantil da biblioteca, conta com exemplares que visam incentivar o hábito da leitura, uma brinquedoteca e uma sala de informática | Foto • Marcella Pontes


HISTÓRIA DO LOCAL


O registro mais antigo que se tem da Benjamim Lemos data do ano de 1974, na Câmara Municipal, mudando posteriormente para as dependências do Cine Teatro Sesi, antes de a instituição permanecer no atual casarão. “Foi no ano de 1985 que a biblioteca foi oficializada, através da Lei Nº 761 de 12 de dezembro. Na época, foi denominada Biblioteca Municipal Pe. Antônio Ferreira da Cruz, e apenas em 2006 foi renomeada ‘Biblioteca Pública Benjamim Lemos’”, conta o professor de História, Fernando Maricato, que trabalha no local.


Há mais de 30 anos, a instituição disponibiliza, além de seu acervo com cerca de 30 mil livros, salas de estudo, espaço infantil, braile, reuniões, laboratório de informática e também uma brinquedoteca. Na gama de livros, é possível encontrar literatura nacional, estrangeira, livros infanto juvenis e infantis, e um acervo especial de livros de escritores marianenses, que contam e consolidam a história da Primaz de Minas e seus artistas.


Obras literárias de grande valor histórico e cultural para a cidade, os livros raros da biblioteca correm riscos de perda por conta das más condições em que o casarão se encontra | Foto • Amanda Maia

Comments


bottom of page