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Peças que compõem o mosaico musical da cidade de Ouro Preto

A rica história musical de Ouro Preto se reflete em uma cena sonora vibrante que une tradições antigas e contemporâneas, celebrando a diversidade cultural e artística da cidade


Izabella Almeida, Matheus Renovato, Stephanie Geminiani

 Imagem mostra uma banda de rock tocando no palco ao fundo, o ambiente está lotado e as pessoas à frente com as mãos levantadas, fazendo o gesto do “Rock n Roll”, com os dedos indicador e mindinho levantados.

Banda Militia, no Poleiro Blues N”Roll - evento de rock anual realizado pela República Poleiro dos Anjos, em Ouro Preto | Foto: June Ruegger


O mosaico musical de Ouro Preto é uma rica e vibrante tapeçaria sonora que reflete a história, a herança e as tradições da cidade. Aqui, há uma celebração da diversidade cultural e artística que conecta seu passado histórico com sua cena musical contemporânea.


Ouro Preto é um ponto de encontro. Os movimentos artísticos históricos que permearam a cidade desempenharam um papel fundamental na formação de sua identidade artística. O Barroco brasileiro, por exemplo, floresceu na arquitetura das igrejas e edifícios coloniais. O Modernismo também deixou uma marca com sua chegada no Brasil, no início do século XX, trazendo novas formas de expressão artística. Em Ouro Preto, artistas modernistas incorporaram elementos locais às suas obras, como referências à cultura e ao folclore da região.


Com o passar dos anos, novos estilos se incorporaram à cena local, como o samba, jazz, forró, rock, corais e fanfarras, criando assim, um mosaico de expressões artísticas. Segundo o secretário de Cultura e Turismo, Flávio Malta, “Ouro Preto é uma cidade plural, o cenário artístico da cidade é muito intenso, o que possibilita a criação de vários mecanismos musicais na cidade”.



A música em Ouro Preto transcende épocas, unindo tradições antigas e contemporâneas. É o caso dos gêneros samba e jazz, que apesar de terem origens diferentes, encontram em Ouro Preto um cenário de convergência. Nos eventos culturais e festivais da cidade, é possível vivenciar essa conexão.


O festival “Tudo é Jazz”, fundado em 2002 em Ouro Preto, foi o primeiro festival do estilo de Minas Gerais. Ao longo dos anos, o evento evoluiu para uma celebração musical eclética do gênero e, por meio de apresentações ao vivo, os músicos exploram as fronteiras do jazz, misturando influências e sons diversos para criar experiências musicais inovadoras.


Para o diretor geral do festival, Rud Carvalho, o "’Tudo é Jazz’ é uma oportunidade de conhecimento, educação e um intercâmbio entre a música de fora e a música mineira”, visto que o festival faz a conexão de músicos estrangeiros com músicos locais.


Uma das características mais distintivas do Festival de Jazz de Ouro Preto é a maneira como reconhece e celebra a influência do samba. O gênero é um pilar da música brasileira, e sua essência rítmica muitas vezes encontra eco no jazz. Durante o festival, essa conexão é homenageada com apresentações que exploram as relações entre os dois gêneros.


O samba, no geral, se insere no tecido social da cidade, fornecendo um espaço para a comunidade se reunir, celebrar suas raízes e compartilhar histórias. Ele desempenha um papel vital na preservação da memória cultural e através do gênero, muitos aspectos da tradição afro-brasileira são destacados e celebrados, reconhecendo a importância da herança africana na formação da identidade brasileira.


Instrumentos da Escola de Música e Casa de Arte Samba Preto Choro Jazz | Foto • Izabella Almeida


A Escola de Música e Casa de Arte Samba Preto Choro Jazz foi fundada em 2015, e tem como base elementos do movimento hip hop, democratizando o acesso à cultura, principalmente à população menos favorecida. “A Samba Preto ensina as tradições da nossa comunidade, através de um ensino afro-centrado (...) a gente mistura samba com choro e jazz e também usamos bastante da música de protesto, que é um tipo de música que traz a conscientização da população”, relata Diego Fernandes, diretor e fundador da Escola de Música e Casa de Arte Samba Preto Choro Jazz.




Essa riqueza musical de Ouro Preto, aliada ao seu patrimônio histórico e arquitetônico preservado, cria um ambiente singular para a apreciação e a vivência da cultura. Os eventos e os espaços culturais tornaram-se símbolos importantes da cidade, fortalecendo o turismo, impulsionando a economia local e, principalmente, valorizando a arte e a música como elementos fundamentais na construção da identidade local.


Como uma região historicamente cristã, é impossível citar cultura ouropretana sem mencionar a religião. Aqui, a música sacra acompanha uma carga temporal muito rica, caracterizada por composições eruditas criadas para a prática religiosa ou sob a influência dela. Na maioria das vezes, encontramos a música erudita em grupos, orquestras e corais de paróquias e igrejas e escolas de ritmo sacro e clássico, como menciona o regente e professor de violino e viola da Escola de Música Padre Simões, da Paróquia do Pilar, Lucas Duarte.



Sobre essa cena musical em Ouro Preto, Lucas afirma: “Acho que a música clássica em Ouro Preto, ela está mais ligada a eventos religiosos, que é onde ela tem mais espaço”. O professor acredita que, aqui, esse estilo apresenta um repertório que não “tem em outros lugares”, graças à carga histórica da região.


Sala de aula da Escola de Música Padre Simões, da Paróquia do Pilar. | Foto: Matheus Renovato


Essa sazonalidade da música sacra, ligada a eventos religiosos espalhados ao longo do ano, também é comentada pelo diretor executivo do coral e orquestra São Pio X, da Paróquia do Antônio Dias, João Carlos dos Santos. Segundo ele, as épocas mais agitadas para o coral são a Semana Santa e o Jubileu, no final do ano.



Os ensaios do grupo, entretanto, seguem o ano inteiro, tendo uma pausa apenas durante a quaresma, uma vez que suas apresentações também acontecem em novenas e outras festividades religiosas menores.



Partitura de Que Verum Corpus, de Mozart, usada no ensaio do coral São Pio X no dia oito de agosto de 2023 |

Foto: Stephanie Locker Geminiani


Assim como os corais e orquestras, as fanfarras, tipos de banda mais simples e menores, também são tradicionais em Ouro Preto, especialmente em eventos como o desfile cívico-militar do dia sete de setembro, que ocorre todos os anos na cidade. Nessa ocasião, escolas municipais e estaduais representam a musicalidade nas comemorações por meio das fanfarras, englobando diferentes estilos, desde religiosa até popular e contemporânea.


A Escola Estadual Desembargador Horácio Andrade é uma das mais antigas a participar do evento, tendo completado 50 anos de fundação da agremiação em 2022. Outras instituições convencionais nas fanfarras são as escolas municipais Juventina Drumond e Isaura Mendes, e a Escola Estadual Marília de Dirceu, assim como algumas associações, a exemplo da Apae de Ouro Preto.


Segundo o responsável pela fanfarra da Escola Estadual Desembargador Horácio Andrade, Leonardo André de Oliveira, esse estilo musical tem também uma grande importância social de “tirar o jovem, o adolescente de um caminho ruim, ele estar batalhando com a gente para tudo funcionar. Ninguém chega aqui e apenas assiste os ensaios, todos ajudam de alguma forma”.


Segundo ele, mesmo sem apoio financeiro, a fanfarra da escola Desembargador Horácio Andrade agita o Bairro Alto da Cruz com seus ensaios e apresentações, que contam com instrumentos de percussão e sopro, e é abraçada pela população local.


Sobre estilos musicais que contagiam o público, a cena do rock emergiu durante os anos 1990, dando origem a bandas locais que abraçaram uma gama diversificada de segmentos, desde o punk até o grunge e o pop rock. Estas bandas não apenas trouxeram uma diversidade de sons, mas contribuíram para enriquecer a tapeçaria musical da cidade, com novas perspectivas e reflexões.


Nesse contexto, o Rock Generator surgiu em 2011 como um farol para as bandas locais em busca de espaços para apresentações originais. Três pioneiras uniram forças para adquirir um gerador de energia a gasolina, dando início a uma jornada musical. De acordo com Paulo Victor Azevedo, integrante do coletivo Rock Generator, os eventos iniciais eram realizados em locais improvisados, mas rapidamente ganharam popularidade, atraindo um público crescente que buscava por experiências musicais autênticas e ao vivo.



O Morro da Forca tornou-se o epicentro dessa jornada musical. Com sua vista panorâmica que favorece a cidade histórica, o local encapsula a essência do Rock Generator. Ali, a música ressoa, impulsionada pelo espírito das bandas locais que encontraram um espaço para expressão criativa. Hoje, com a interdição do ponto histórico após o desabamento, o Rock Generator acontece em diferentes locais da cidade, como na Mina Chico Rei.


Inspirado pelo Rock and Roll e pelo movimento punk, Paulo afirma que o Rock Generator adota a filosofia "faça você mesmo", celebrando a independência e a inovação. Essa abordagem é guiada por influências e histórias inspiradoras de bandas que emergiram de cenários inusitados. Essa mentalidade independente é a força motriz que direciona o Rock Generator em sua jornada musical.


Para além da música, as repúblicas estudantis desempenham um papel crucial no cenário do rock na cidade. Desde os anos 1990, os estudantes de Ouro Preto compartilham uma paixão pelo rock. "Vai rolar um rock hoje?" é mais do que uma simples pergunta; é um convite para se juntar a uma tradição de música, amizade e celebração que flui pelas veias da cidade.


Banda Black Gold no Poleiro Blues N”roll - evento realizado pela República Poleiro dos Anjos

em julho de 2023 em Ouro Preto | Foto: June Ruegger


Assim como as batidas do rock ressoam nas noites de Ouro Preto, o forró também encontra seu espaço nos acolhedores cenários musicais da cidade, como o Bar do Assufop e o Bar da Nida. Este último se estabeleceu como um local de encontro para os entusiastas do gênero, onde os compassos formam uma atmosfera descontraída e de celebração.



O Grupo de Forró de Ouro Preto (GFOP) desempenha um papel crucial em introduzir e preservar o forró na cidade. Há uma década, tem oferecido aulas gratuitas de forró. Atualmente, elas acontecem na Casa de Cultura Negra, perto da Igreja Santa Efigênia, aos domingos, às 15h, e fornecem um espaço para aprender os passos e os ritmos dessa dança tradicional.


Além de ser apreciado em ambientes de dança e nas aulas do GFOP, o forró também se conecta com a vida estudantil e as tradições das repúblicas de Ouro Preto. Elas se unem para celebrar as festas juninas, e o estilo é presença constante nesses eventos.


Bandas como a Manguacêra, formada por ex-alunos da República Xiboca, dão vida ao forró em Ouro Preto. Eles não só trazem o espírito da dança para o palco, mas representam a continuidade da paixão musical entre as gerações.


A cena musical de Ouro Preto é um mosaico que reflete a diversidade cultural da cidade. Desde o esplendor do Barroco até a energia do rock, passando pelo ritmo do forró, a música une tradições e gerações. Espaços culturais e festivais reforçam esse legado, proporcionando não apenas entretenimento, mas celebrando a identidade ouropretana.


Descubra onde encontrar cada identidade musical citada no texto, explorando o mapa que fizemos:





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