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Um trabalho desvalorizado, uma profissional invisível e muitas histórias a serem contadas

Atualizado: 8 de ago. de 2023

Atrás da invisibilidade, uma mulher de 43 anos, Waldhisechi Pereira, trabalha arduamente na varrição das ruas da cidade

Yasmin Mendes


Pelas ruas de Mariana, a maioria de nós descartamos nossos lixos de maneira inadequada, apenas esperamos que alguém colete esses lixos e deixe as ruas limpas, mesmo não sabendo quem são essas pessoas. Não vemos esses trabalhadores e trabalhadoras com o mesmo olhar que olhamos para outros indivíduos em nosso cotidiano. Apesar de toda a invisibilidade, há por trás dessa atividade profissional uma pessoa com nome, sobrenome, família e, além disso, que está ali diariamente batalhando pelo pão de cada dia.


Waldhisechi Pereira é uma mulher de 43 anos, parda, humilde e que, em um primeiro momento, aparenta ser uma pessoa muito reservada. Por motivos pessoais, estudou até a quinta série do ensino fundamental e se arrepende por não ter concluído os estudos. Ela trabalha há três anos na limpeza das ruas e, nesse tempo, muita coisa aconteceu.


Mudanças necessárias

A atividade desempenhada pela Waldhisechi é, sem dúvidas, essencial para a varredura da cidade, entretanto, é desvalorizada e menosprezada por aqueles que estão em outro contexto social. Manter a cidade constantemente limpa e agradável ao olhar de quem vê é uma tarefa árdua, pensando nos desafios diários de estar exercendo esta profissão. Como ela se alimenta estando na rua? Onde ela bebe água? Será que ela tem acesso a um banheiro? Ela está protegida? Essas são algumas perguntas, de muitas outras, pertinentes a serem feitas a respeito do trabalho desempenhado por Waldhisechi.


Vulnerabilidade social

Os motivos que levaram Waldhisechi a exercer a função de varredora de rua podem ser vários: mulher parda, pobre, humilde e que, devido a essas questões sociais, a fizeram trabalhar em cargos que são considerados minorizados socialmente e mal-remunerados.


Antes de trabalhar na limpeza urbana da cidade, trabalhou no programa social Renda Mínima, desenvolvido pela Prefeitura de Mariana. O programa inclui mulheres chefes de família que estão em situação de vulnerabilidade social em cargos nas secretarias da prefeitura como: cozinheira, limpeza, auxiliar administrativo, entre outros.


Um trabalho desafiador

Quando ela conseguiu o emprego na varrição de rua, sentiu medo de não conseguir desempenhar a função, tinha medo de não dar conta do serviço e também das pessoas a criticarem.


Além disso, ouvia de pessoas próximas relatos como “não imaginava você varrendo a rua".


O início na empresa prestadora de serviços de limpeza urbana foi desafiador para ela, pois no primeiro dia de trabalho sentiu o preconceito na pele. Enquanto trabalhava em sua rota foi atingida por um litro de leite arremessado por uma moradora que descartava o lixo residencial de maneira incorreta. Esse acontecimento foi uma das razões para ela se sentir humilhada e querer ser mandada embora.


Em virtude da pandemia da covid-19, muitas coisas aconteceram na vida de Waldhisechi. Foi um momento delicado para ela devido ao que foi acontecendo. As pessoas tinham medo dela na rua e se esquivavam, com receio de serem contaminadas pela covid-19, pois a viam como alguém que não poderia se proteger do vírus.


Apesar disso, o seu maior desafio é não saber lidar com os indivíduos à sua volta que não dão o devido valor ao serviço prestado por Waldhisechi. É perceptível o desânimo de alguém que trabalha tanto em uma profissão fundamental para o funcionamento da cidade e, mesmo assim, se sente desdenhada e até mesmo invisível, mesmo estando presente nas ruas diariamente.


#PraTodosVerem: mulher parda sentada em uma cadeira escolar, vestindo camisa cinza e calça em tom de azul, com o braço esquerdo apoiado na cadeira e o braço direito apoiado em uma mochila rosa
Waldhisechi no Centro de Convenções, após o expediente | Foto • Yasmin Mendes

Por trabalhar de forma direta nas ruas da cidade, ela nos conta que não se alimenta direito. As refeições são todas realizadas no mesmo local que está sendo varrido, por isso, acaba desanimando de levar sua própria comida. Prefere comprar um marmitex ou acaba ficando durante o expediente sem comer. Essa escolha pessoal de Waldhisechi nos faz pensar sobre as necessidades básicas que este serviço deveria oferecer para ela e para todas as outras trabalhadoras da limpeza urbana, como condições mínimas de alimentação, uma vez que uma refeição saudável é essencial para nos manter em qualquer ambiente trabalhista.


Do trabalho à vida pessoal, sua rotina é exaustiva. Trabalhando de segunda a segunda, ela se sente muitas vezes culpada por não estar presente em seu lar como gostaria. Sua filha de 9 anos e o seu esposo sentem sua falta em casa, já tendo eles falado isso para ela. Mas, como se fazer presente se é preciso batalhar exaustivamente para conseguir um salário mínimo?

Sobreviver no Brasil, dando a vida ao trabalho e não ter tempo para a família, é doloroso. Apesar do esgotamento causado pela atividade que exerce, quando consegue um tempo para ficar perto da família, ela não pensa duas vezes, dá total prioridade aos entes queridos, optando em fazer um churrasco, por exemplo.


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